Título: Empresários otimistas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2007, Notas e Informações, p. A3
Cresceram, em 2006 - atingindo a melhor marca em oito anos -, os investimentos das empresas em máquinas, equipamentos e instalações, como mostrou levantamento da Serasa, que estudou os balanços publicados, no primeiro trimestre de 2007, por 43,3 mil companhias. Esses números revelam o otimismo das empresas em relação ao futuro, apesar da persistência de fatores estruturais negativos, que limitam o potencial de crescimento da economia, como a carga tributária e as deficiências da infra-estrutura.
Entre 2005 e 2006, o porcentual do faturamento das empresas destinado a investimentos fixos aumentou de 6,5% para 8,1%, superando o índice de 7,8% registrado em 2001. Foi a melhor marca desde que o levantamento começou a ser feito, em 1999. As companhias pesquisadas aplicaram R$ 112,1 bilhões, em 2006, 30,5% a mais do que os R$ 85,8 bilhões investidos em 2005. Parece estar superada a pior fase para os investimentos na produção ocorrida no triênio 2002/2004.
Os maiores níveis de investimentos apurados pela Serasa - entre 11,7% e 19,4% do faturamento - foram registrados nas empresas que prestam serviços públicos, como energia elétrica, telefonia fixa e celular, transportes e gás. No setor secundário, os destaques ficaram com papel e celulose, alimentos, petroquímica e siderurgia, com investimentos entre o mínimo de 6,1% e o máximo de 31,1%.
Empresários ouvidos pelo Estado confirmaram a disposição de investir. A Indústrias Romi, líder no mercado de máquinas-ferramenta, investiu R$ 50 milhões em 2006 e pretende investir R$ 60 milhões neste ano. Valor idêntico já foi investido, em 2007, por outra empresa líder em seu segmento, a alemã Mauser, que fabrica embalagens industriais plásticas e metálicas.
As companhias telefônicas, que já investiram pesadamente na oferta de novas linhas, nos últimos anos, continuam aplicando vultosos recursos para não perder mercado e oferecer serviços de maior valor agregado. A Telefônica, por exemplo, investiu R$ 2,876 bilhões em 2006 e projeta investimentos de R$ 3,750 bilhões em 2007.
As taxas de juros, embora muito elevadas, em 2006, não impediram o aumento dos investimentos. E tampouco deverão atrapalhar os investimentos de 2007, pois as taxas são declinantes e as empresas podem se valer do aumento dos créditos do BNDES, de custo menor.
Já o câmbio, cuja valorização afeta a rentabilidade dos exportadores, está levando muitas empresas a importar mais bens de capital, beneficiando-se do real valorizado.
Os principais entraves aos investimentos, no entanto, continuam sendo a precariedade da infra-estrutura e a elevada carga de impostos.
Nas áreas de energia e logística, as dificuldades são crescentes. Um caso concreto é o da Companhia Vale do Rio Doce que, temendo um novo ¿apagão¿ em 2012, decidiu rever investimentos de longo prazo em projetos nas áreas de cobre e níquel, bem como de alumínio - cuja produção exige um grande consumo de energia elétrica. O presidente da Vale, Roger Agnelli, foi taxativo: ¿O fato é o seguinte: o País precisa ter mais geração de energia, seja nuclear, térmica, a gás, carvão, hídrica, o que for. Mas precisa ter mais energia.¿
Os maiores projetos são hidrelétricos e têm sido brecados pelo Ibama, não havendo indicações de que o Executivo federal esteja prestes a vencer o obstáculo. Outro obstáculo é a incrível demora do governo federal nas concessões rodoviárias - nenhuma rodovia teve a administração privatizada desde que o presidente Lula chegou ao poder.
Se os entraves puderem ser afastados, a taxa de investimento poderá crescer ainda mais, pois o ambiente econômico é favorável ao aumento da produção, sobretudo destinada ao mercado doméstico. Outros levantamentos têm confirmado a disposição de investir - como a última Sondagem Industrial da FGV. Mais da metade (52%) das empresas voltadas para o mercado interno pretende aumentar seus investimentos no segundo semestre, porcentual mais que o dobro superior ao das companhias exportadoras.