Título: Lago depõe e complica situação dos sobrinhos
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2007, Nacional, p. A5

Em depoimento à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), reconheceu ontem a possível participação de dois sobrinhos na máfia das obras, investigada pela Operação Navalha. Lago admitiu que há irregularidades no governo e prometeu investigação detalhada. O governador garantiu não ter nenhum envolvimento no esquema montado, segundo a Polícia Federal, pelo empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama.

Durante o depoimento de pouco mais de duas horas, Lago ouviu gravações feitas pela PF, com autorização da Justiça, e reconheceu a voz do sobrinho Alexandre Maia Lago. Em uma das conversas, no dia 21 de março deste ano, Alexandre dizia que encontraria o tio naquela noite, no hotel em que estava hospedado. O governador confirmou que se hospedou no Hotel Kubitschek, em Brasília, naquela data, mas negou que tivesse se encontrado com o sobrinho.

Alexandre e outro sobrinho de Lago, Francisco de Paula Lima Júnior, foram presos na Operação Navalha, sob acusação de terem recebido R$ 240 mil supostamente em nome do tio governador.

'Foi profundamente lamentável. Havendo a constatação disso (a participação dos sobrinhos), esperamos que, além das relações com a Justiça, isso seja uma lição. Mas é profundamente triste tudo isso', declarou Lago ao deixar o STJ. Ele insistiu em que, se os sobrinhos falaram em seu nome e receberam propina, foi sem seu conhecimento.

'Eu tenho uma vida honrada, limpa, todo meu patrimônio e o de minha mulher é apenas o apartamento em que eu e ela moramos e uma caminhonete que eu pago em 36 meses', afirmou. Ele disse que poderia ter ganho dinheiro como médico ou, se fosse desonesto, enriquecido na vida pública. 'Fui um profissional exitoso. Se quisesse ganhar dinheiro, eu teria ganho como profissional. Fui prefeito três vezes de São Luís. Se eu tivesse amor ao dinheiro e fosse desonesto, eu teria tido a oportunidade', afirmou em entrevista.

O governador disse ter determinado que todos os órgãos de fiscalização e investigação do Maranhão colaborem com as investigações da Operação Navalha. 'Já determinei a apuração de tudo. Está evidente que há muita irregularidade, estamos apurando tudo', assegurou.

TEOTÔNIO

Pela manhã, Eliana Calmon ouviu o depoimento do governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB). Secretários do governo alagoano foram presos na Operação Navalha, suspeitos de receber propina para beneficiar a Gautama em obras contratadas pelo Estado. 'A ministra fez questão de dizer que não estou sendo investigado. Fui chamado para ajudar a colaborar', afirmou o governador. Teotônio disse que determinou uma auditoria na Secretaria de Infra-Estrutura de Alagoas, que, segundo a PF, era o maior foco da máfia das obras no Estado. Segundo Teotônio, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outras instituições, foram convidados a acompanhar todas as etapas da auditoria. Teotônio lembrou que exonerou todos os servidores apontados pela Operação Navalha.

No fim da tarde foi iniciado o depoimento do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau. Ele foi investigado pela Polícia Federal por suspeita de ter recebido, por intermédio do assessor Ivo Costa, propina de R$ 100 mil da Gautama. Rondeau nega envolvimento no esquema.

Também prestaram depoimento ontem no STJ o deputado distrital Pedro Passos (PMDB), que, segundo a PF, recebeu propina para beneficiar a Gautama em obras no Distrito Federal e Ulisses César Martins de Souza, ex-procurador-geral do Maranhão.

FRASES

Jackson Lago Governador do Maranhão

'Foi profundamente lamentável. Havendo a constatação disso, esperamos que, além das relações com a Justiça, isso seja uma lição. Mas é profundamente triste tudo isso'

'Já determinei apuração de tudo'

Teotônio Vilela Filho Governador de Alagoas

'A ministra fez questão de dizer que não estou sendo investigado. Fui chamado para ajudar a colaborar'.