Título: Peemedebista descarta hipótese de renúncia
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2007, Nacional, p. A6

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já descartou qualquer possibilidade de se licenciar do posto ou do mandato de senador enquanto são feitas as investigações sobre o suposto pagamento de contas pessoais suas pela Construtora Mendes Júnior. Contrariando o que dissera no dia anterior, Renan garantiu ontem a interlocutores que tem provas de que usou recursos próprios para pagar, de 2004 a 2005, uma pensão para a jornalista Mônica Veloso, mãe de uma filha sua.

Mais: Renan considera que têm o apoio político de 80 dos 81 senadores (ele se inclui nessa conta). Na sua avaliação, resta apenas convencer o pedetista Jefferson Peres (AM), que na terça-feira defendeu seu afastamento da presidência da Casa até a investigação terminar.

Por intermédio de seus advogados, o senador alagoano enviou ontem ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), documentos que acredita serem suficientes para provar sua inocência e barrar qualquer pedido de abertura de processo de cassação por quebra de decoro, encerrando definitivamente o episódio. Entre os documentos, que nem ele nem os advogados quiseram mostrar, haveria extratos de movimentações bancárias que demonstrariam que pagou a pensão com recursos próprios e não de qualquer empresa (leia texto acima).

A aliados Renan tem dito que é preciso conservar a serenidade durante todo o processo. Admite que a importância do seu cargo aumenta a dimensão do caso, mas avalia que só está conseguindo garantir o apoio dos outros senadores porque se expôs e contou no plenário da Casa, na segunda-feira, todos os detalhes de um caso extremamente pessoal.

Ele também não se arrepende de ter feito seu pronunciamento sobre o caso enquanto ocupava a presidência da sessão. Alguns senadores acreditam que deveria ter cedido a condução da sessão para outro parlamentar e ocupado a tribuna, abrindo mão do comando da Casa para apresentar suas explicações. Para quem o questionou sobre isso, Renan respondeu que é impossível dissociar os acontecimentos do fato de ocupar a presidência do Senado e, portanto, não fazia sentido usar a tribuna.

Nas conversas, o senador insiste em que tem falado a verdade e que nunca na história do Congresso algum parlamentar se expôs como ele. Também não distribui culpas pela difícil situação que enfrenta, com exceção de adversários de Alagoas. Renan tem repetido o que disse no discurso: que às vezes não sabe 'de onde vêm as pedras'. A relação com o governo federal, até agora, está preservada, na sua avaliação. Até porque diz ter recebido sinais claros de que o Palácio do Planalto tem interesse na sua recuperação política, uma vez que tem sido um dos principais responsáveis pela costura da coalizão entre PT e PMDB.

DÚVIDA

Apesar disso, resta ainda a Renan apresentar documentos que acabem com a suspeita de envolvimento com a Mendes Júnior. Entre 2004 e 2005, antes do reconhecimento da paternidade da filha, ele teria pago cerca de R$ 12 mil mensais para Mônica Veloso, além de R$ 100 mil como uma espécie de fundo para a educação da criança.

Mas é justamente nesse período que Mônica teria recebido dinheiro regularmente entregue por Cláudio Gontijo, amigo do senador e funcionário da Mendes Júnior. O senador afirma que usou recursos próprios e que Gontijo apenas entregava o dinheiro. A construtora também assegura que não repassou nenhum dinheiro para pagamentos de Renan.

A partir de dezembro de 2005, quando a paternidade foi reconhecida oficialmente, não há mais dúvidas sobre pagamentos. Na própria segunda-feira, ao fazer seu discurso, Renan apresentou todos os comprovantes dos pagamentos que fez para Mônica relativos às pensões pagas nesse espaço de tempo. O período que continua nebuloso é o que vai de janeiro de 2004 a novembro de 2005. Mas o senador insiste em que os documentos entregues ontem ao corregedor do Senado acabarão com qualquer dúvida.