Título: Amazônia emite mais de 20% do metano de todo o mundo
Autor: Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2007, Vida&, p. A17

O desmatamento da Amazônia já é bem conhecido por sua contribuição para o aquecimento global e coloca o Brasil entre os cinco maiores emissores de gás carbônico. Um novo estudo mostra, no entanto, que seu impacto pode ser ainda maior: a floresta responde por mais de 20% das emissões de metano (CH4) do mundo, o segundo principal gás de efeito estufa.

Apesar de ser emitido em menor quantidade, o metano tem um potencial de aquecimento 21 vezes maior que o CO2, característica que o torna bastante danoso para o clima. No entanto, ele é ainda pouco estudado. Para preencher ao menos em parte essa lacuna, um grupo de cientistas brasileiros e americanos coletou amostras de ar sobre a Amazônia entre 2000 e 2006. A idéia era medir quais gases saem da floresta.

O primeiro resultado apresentado foi do CH4. Verificou-se que a região contribui em média com uma emissão de 34 partes por bilhão (ppb) do gás por ano - a média mundial é de 150 ppb, em medições feitas do pólo Norte ao pólo Sul. Em alguns momentos, no entanto, a equipe do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e do NOAA, órgão de pesquisas americano sobre oceanos e atmosfera, chegou a registrar uma emissão de 200 ppb.

Os resultados pegaram a equipe de surpresa. ¿Não imaginávamos que a floresta emitia tanto metano assim¿, comenta Luciana Vani Gatti, do Centro de Química e Meio Ambiente do Ipen. ¿Agora temos de entender direito quais são as fontes.¿

Já se imaginava, por exemplo, que durante o período de chuvas a floresta deveria ter uma emissão maior, visto que o gás é resultado da decomposição anaeróbica que ocorre tipicamente em áreas alagadas. Mas os cientistas observaram que ele é liberado em larga escala ao longo de todo o ano. Um dos motivos são as queimadas que ocorrem na seca.

¿Mesmo levando tudo isso em conta achávamos que no geral a emissão deveria ser menor do que realmente é, o que sugere que deve haver alguma outra fonte que não temos conhecimento¿, explica Luciana. Uma hipótese é que as próprias plantas emitam o gás.

¿Agora fica claro que o problema é o que é emitido pelas atividades humanas, não o que sai naturalmente da floresta. A próxima etapa do estudo será descobrir quanto cada parcela representa. Só assim poderemos tomar medidas de controle¿, diz.

IMPACTO DA AGRICULTURA

O levantamento mediu também as emissões de outros gases, entre eles o dióxido de carbono e óxido nitroso (N2O, o terceiro maior contribuinte para o efeito estufa), mas os dados ainda estão sendo analisados. Luciana adianta, porém, que os danos da transformação da floresta em plantações de soja e arroz já podem ser detectados. Ela notou ao menos na região de Santarém (PA) um ¿aumento significativo¿ do N2O.

¿Esse gás é um resultado comum da fertilização do solo. Vemos muito na região de Santarém um uso desses produtos muito acima do recomendado. O agricultor nem sabe que, além de fertilizar o solo, está colaborando com o efeito estufa¿, comenta a pesquisadora.

A pesquisa foi publicada na revista Geophysical Research Letters e faz parte do Experimento Biosfera-Atmosfera de Larga Escala na Amazônia (LBA, na sigla em inglês), que busca esclarecer o papel da Amazônia no clima global.