Título: Brasil deixa de exportar US$ 2,7 bi para os EUA
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2007, Economia, p. B8

Apesar da festejada aproximação entre Brasil e Estados Unidos, os americanos não abriram mão de nenhuma das centenas de barreiras que impõem à entrada de produtos brasileiros em seu mercado. Só por causa das ações de antidumping, o Brasil perdeu US$ 2,7 bilhões em exportações de 1991 a 2006.

Enquanto isso, os americanos acenam com agrados para outros parceiros comerciais. Acabam de autorizar, por exemplo, a importação de mangas da Índia, depois de 19 anos de barreiras sanitárias. Mas o Itamaraty adota uma posição serena em relação à falta de gestos de boa vontade dos Estados Unidos e aposta na Rodada Doha para a eliminação de barreiras aos produtos brasileiros.

'Há uma forte expectativa de conclusão da Rodada Doha e isso poderá levar à redução de barreiras', diz o embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota . 'Precisamos ter em mente, em primeiro lugar, que, apesar da persistência das barreiras, nossas exportações estão aumentando. Isso é importante em si mesmo.'

Os Estados Unidos impõem obstáculos para a entrada de carnes bovina e suína, frango, várias frutas, aço, suco de laranja, açúcar, etanol, tabaco e algodão, entre outros, como mostra o relatório de barreiras a produtos brasileiros no mercado dos EUA, elaborado pela embaixada em parceria com a Funcex, divulgado ontem.

A única barreira discutida nos encontros entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, em março, foi a tarifa de US$ 0,54 por galão sobre o etanol. E o recado dos americanos não foi dos mais animadores: não haverá renegociação da tarifa ao menos até o fim de 2008, quando expira.

Patriota admite que não houve avanço na eliminação de barreiras para exportações brasileiras no mercado americano. 'A grande novidade do relatório é menos a parte das barreiras - o detalhamento do relatório segue padrões anteriores - do que o contexto de intensificação do diálogo em que ele é apresentado, um momento de oportunidade estratégica , que se reflete em etanol, Rodada Doha, cooperação na África e Haiti.'

O embaixador bate na tecla de que, apesar da persistência das barreiras, o comércio está aumentando . 'Apesar da tarifa sobre o etanol, a exportação subiu 1000% entre 2005 e 2006', diz. Patriota deixou de mencionar que 2006 foi um ano atípico, por causa da entrada em vigência da proibição do aditivo MTBE na gasolina. Segundo empresários do setor, o desempenho não deve se repetir tão cedo.

Ele afirma que o foco em Doha não vai comprometer a negociação de barreiras específicas a produtos brasileiros nos EUA. Mas aposta em 'canais' alternativos para negociar essas barreiras, como um fórum de altos executivos, a criação de setores dedicados à promoção comercial nos consulados dos Estados Unidos e um endereço eletrônico na embaixada para dúvidas do exportador interessado em entrar no mercado americano.

Patriota cita como progresso da relação bilateral a retirada do Brasil da lista de países que desrespeitam a propriedade intelectual. 'Uma conclusão bem-sucedida na rodada se repetirá no comércio bilateral Brasil-EUA', torce. Mas ele afirma esperar para 'muito em breve' avanços nas áreas de carnes e de suínos, por exemplo.

Entre as reivindicações brasileiras não atendidas está a de acabar com a exigência de chamar a cachaça de 'rum brasileiro' em embalagens nos Estados Unidos.

Segundo o relatório, no caso do suco de laranja, óleo de soja e outros produtos, o Brasil vem perdendo espaço para exportadores que têm acordos de preferências tarifárias com os EUA, como México, Peru, Colômbia, Chile.

Perguntado sobre o que ocorreria com a participação brasileira no mercado americano, no caso de um fracasso da Rodada Doha, Patriota respondeu: 'Existem outras formas de operação comercial nos Estados Unidos, no setor de suco de laranja há muitas empresas brasileiras se estabelecendo na Flórida.'