Título: Lobista pagaria pensão da filha, aluguel de apartamento e flat para senador
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2007, Nacional, p. A4

A ligação que mais complica o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) hoje não é com a Construtora Gautama, mas com um lobista ligado à Mendes Júnior, uma das maiores construtoras do País. A informação, revelada ontem pela revista Veja, dá detalhes de um pacote de benefícios ao senador supostamente oferecidos por Cláudio Gontijo, assessor da Diretoria de Desenvolvimento de Tecnologia da empreiteira há 15 anos. Em jogo, estaria a defesa dos interesses da empresa junto ao governo.

O lobista teria custeado, de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, R$ 12 mil mensais de pensão para um filha do senador, hoje de 3 anos, com a jornalista Mônica Veloso. Além disso, até março passado, Gontijo teria financiado o aluguel de um apartamento de quatro quartos, em uma área nobre de Brasília, ao custo mensal de R$ 4,5 mil. A jornalista, até recentemente, morava no imóvel, cujo fiador é o próprio Gontijo.

Segundo o relato, Mônica ia todos os meses ao escritório da Mendes Júnior em Brasília, na Asa Sul, onde recebia um envelope timbrado, com as suas iniciais e os dados de Gontijo. Dentro, havia uma quantia de R$ 16,5 mil - o aluguel do apartamento e a pensão da filha. As duas ainda tinham seguranças pagos pelo lobista. Por fim, Gontijo teria colocado à disposição de Renan o flat de número 2.018, no hotel Blue Tree.

Na eleição, havia mais auxílio. Segundo a reportagem, o funcionário da construtora ajudou nas campanhas eleitorais de Renan e colaborou - extra-oficialmente - nas candidaturas de seu filho, Renan Calheiros Filho (eleito prefeito de Murici), e de seu irmão, Robson Calheiros (suplente de vereador), em 2004. Outro aliado, o médico José Wanderley, hoje vice do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), também teria recebido doações eleitorais.

A revista informa, ainda, que o dono da Guatama, Zuleido Veras, financiou a campanha frustrada de Renan ao governo de Alagoas, em 1990. Naquele ano, eles teriam se tornado amigos, a ponto de o dono da empresa investigada pela Operação Navalha freqüentar a residência oficial do presidente do Senado.

REAÇÃO

À revista, a Mendes Júnior garantiu que a relação com Renan é ¿questão pessoal¿ de Gontijo, alegando que nunca soube de pagamentos. ¿Ele é meu amigo, nada mais¿, respondeu Gontijo, por sua vez, ao saber que as informações viriam à tona. ¿Parei de ir à casa dele desde que ele virou presidente do Senado para evitar problemas.¿

Gontijo confirma a entrega do envelope à jornalista, mas garante que os recursos não eram dele nem da empresa: ¿Só posso dizer que não era meu.¿ Renan, que ganha salário de R$ 16.512,09 - após o último reajuste dado aos parlamentares -, alegou que o dinheiro era dele mesmo. Para reunir os R$ 16,5 mil, recorreria a ¿rendimentos agropecuários¿.