Título: Múltis tentam se adaptar ao real forte
Autor: Silva, Cleide e Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2007, Economia, p. B6

Empresas multinacionais estão mudando suas estratégias de negócio diante da certeza que o dólar continuará em queda. Companhias que exportam muito estão aumentando suas importações para compensar a variação cambial. É o que o presidente da General Motors, Ray Young, chama de hedge natural. Outras empresas aproveitam o dólar barato para aumentar a importação de peças usadas na montagem de seus produtos.

Young defende maior equilíbrio entre exportações e importações. ¿Precisamos criar um hedge natural para continuar a exportar no futuro.¿ Este ano, a GM deve exportar 140 mil veículos, 15% a menos que em 2006, e importar 60 mil, quatro vezes mais que em 2006. Para Young, a necessidade de manter esse equilíbrio é acentuada pela valorização do real. Além de carros, a GM vai aumentar a importação de matérias-primas.

O executivo acredita que o dólar chegará a R$ 1,80 durante o ano. Ele e outros 19 executivos de diferentes setores participaram de reunião do conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham), realizada ontem na sede do Estado.

Outra alternativa é o uso maior da capacidade das fábricas na Argentina, onde o custo de produção é inferior. ¿Criamos o segundo turno na fábrica de Rosário e a produção deve chegar a 110 mil veículos (crescimento de 57%)¿, diz Young.

Nas fábricas brasileiras o aumento da produção será de 2,7%, para 565 mil unidades. O mercado interno está em expansão e vai compensar a redução nas exportações.

A IBM aposta no potencial das exportações de serviço de tecnologia e software, mas o câmbio está estragando a festa da companhia, que já perdeu vários contratos para outras subsidiárias. ¿Poderíamos crescer 50% ao ano, mas vamos crescer só 10%¿, diz o presidente da IBM, Rogério Oliveira. ¿O custo de pessoal começa a ficar caro com esse câmbio. A Argentina custa metade do Brasil. Quando o câmbio estava em R$ 3, o Brasil era 20% mais caro que a Índia. Agora é 50%.¿ Dos 13 mil funcionários da IBM, 5 mil trabalham no setor de exportação.

O presidente da Visteon, José Hélio Contador, vê um lado bom do real valorizado. Os preços de itens eletrônicos não produzidos no País caíram e, com a entrada em maior volume, a fábrica de Manaus será ampliada. ¿Em junho, vamos inaugurar nova instalação e a capacidade produtiva passará de 500 mil para 800 mil peças ao ano.¿

Para o presidente da General Eletric (GE), Alexandre Silva, a indústria tem de se adequar ao câmbio, intensificando atuação nos setores em que o País é mais competitivo e aumentando importações de peças e produtos prontos nos demais setores.