Título: Uribe vai libertar rebeldes das Farc
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2007, Internacional, p. A25
Dois dias depois de propor uma anistia aos políticos detidos sob acusação de vínculos com organizações paramilitares de direita, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, anunciou ontem que pretende libertar até 7 de junho um número ainda indefinido de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Uribe disse que a decisão foi tomada por causa de uma ¿razão de Estado¿, cujo teor será anunciada oportunamente.
Segundo o presidente, a única condição imposta para a libertação é que os guerrilheiros se desmobilizem e atuem como ¿gestores da paz¿. Após o anúncio, uma comissão do governo começou a revisar os processos de 1.600 guerrilheiros presos para analisar a situação jurídica de cada um deles. Os que cometeram delitos de lesa-humanidade, como massacres de civis, não serão beneficiados.
O comando das Farc ainda não se manifestou sobre a proposta. Para César Restrepo, pesquisador da Fundação Segurança e Democracia, um grupo de estudos de Bogotá, a libertação de guerrilheiros das Farc e a proposta de anistia a políticos vinculados aos paramilitares estão interligadas.
¿Atualmente existem dois grandes problemas na Colômbia: a questão dos 56 reféns políticos mantidos pelas Farc, entre eles a senadora Ingrid Betancourt, e o escândalo dos paramilitares¿, afirmou Restrepo, por telefone, ao Estado.
O anúncio da anistia aos guerrilheiros mostraria que o governo está se esforçando para viabilizar um acordo humanitário com as Farc que possibilite a libertação dos reféns políticos. Restrepo vê ainda outra razão para o anúncio. ¿A maioria dos políticos envolvidos no escândalo dos paramilitares faz parte da base aliada do governo, então o anúncio da libertação dos guerrilheiros é uma manobra excelente para tirar os partidários de Uribe do noticiário,¿ disse Restrepo. O professor de política da Universidade Nacional da Colômbia Pedro Medellín acredita que a atitude de Uribe é desesperada. ¿É uma idéia de alto risco que só faz sentido no contexto atual da crise que o governo está enfrentando¿, afirmou.
Restrepo, no entanto, reconhece na iniciativa de ontem uma importante mudança de postura do presidente. Até agora, Uribe manteve uma política de confrontação com a guerrilha e jamais mostrou-se disposto a fazer concessões em troca da libertação dos 56 reféns. ¿A verdade é que o presidente está desgastado após cinco anos no poder sem resolver o problema das Farc.¿
Vários analistas duvidam que a guerrilha aceite uma troca simples de reféns por guerrilheiros. Em entrevista à agência de notícias Anncol, na semana passada, o porta-voz das Farc, Raúl Reyes, afirmou que a guerrilha não vai libertar os reféns antes de o governo desmilitarizar uma zona do país para negociações. Ontem, as Farc divulgaram um comunicado na internet reiterando sua posição, sem comentar o anúncio de Uribe - no documento, os rebeldes pedem a renúncia do presidente. Um jornal alemão publicou ontem um artigo de Reyes, onde o guerrilheiro propôs trocar três americanos capturados pelas Farc em 2003 por dois ex-dirigentes da guerrilha presos nos EUA. Os rebeldes são acusados de tráfico de drogas e pelo seqüestro dos americanos.