Título: Impasse na USP inspira invasões 'solidárias' em campus da Unesp
Autor: Henrique, Brás e Fávaro,Tatiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2007, Vida&, p. A34

Enquanto o Estado não põe fim à invasão da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), que já dura 23 dias, a ¿solidariedade¿ de estudantes e professores fez com que o movimento se alastrasse pelo interior, com invasões na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e piquetes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O governo do Estado ontem deu novas mostras de que há muita indecisão envolvendo o assunto. O governador José Serra (PSDB) disse, em Mongaguá, que não serão revogados os decretos que são alvo de críticas das universidades. No dia anterior, o secretário de Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey, afirmou que ¿aperfeiçoamentos¿ poderiam ser feitos.

Em Rio Claro, ao menos cem alunos passarão o fim de semana em oito salas de um dos blocos do Instituto de Geociências do campus da Unesp. Segundo informou o estudante de Biologia Francisco Nery da Silva, do centro acadêmico, a ocupação iniciada na noite de quinta-feira e fortalecida durante a manhã e tarde de ontem é um ato de solidariedade aos estudantes da USP.

Embora tenham uma pauta de reivindicações própria, os alunos afirmam que as prioridades para o grupo são a revogação dos decretos assinados neste ano pelo governador Serra e a preservação da integridade física dos alunos que participam de manifestações e ocupações na capital paulista. ¿Também queremos a derrubada da Secretaria de Ensino Superior, que garante privilégios à iniciativa privada em detrimento dos interesses da universidade pública¿, afirmou o estudante. ¿Mas sabemos que isso só será possível quando a discussão extrapolar os muros da universidade e ganhar apoio da população.¿

A ocupação do Instituto de Geociências foi pacífica. Os alunos entraram em pequenos grupos e colocaram colchões nas salas de aula. A sexta-feira amanheceu ensolarada, porém bastante fria na região de Rio Claro, mas os estudantes afirmaram que não têm previsão para sair, ¿chova ou faça sol¿. O diretor da unidade, professor Sebastião Gomes de Carvalho, afirmou ontem que o movimento está unificado. Carvalho esperava, até o fim da tarde, a pauta de reivindicações dos alunos.

DISCUSSÃO

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a paralisação foi total na Faculdade de Educação e Institutos de Estudos da Linguagem e de Filosofia e Ciências Humanas. Lideranças de professores, funcionários e alunos não souberam informar o número exato de grevistas. Outras unidades, como o Instituto de Artes, Faculdade de Educação Física, Instituto de Geociências, Instituto de Química e Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica tiveram greve parcial.

¿Muitos dos professores que deram aula hoje (ontem) optaram por dar metade da aula e abrir para discussão sobre as manifestações na segunda parte da aula¿, afirmou o presidente da Associação dos Docentes da Unicamp, professor Valério José Arantes. Segundo ele, haverá um novo fórum dos docentes na terça-feira, para votar pela continuidade ou não da greve. ¿Mais que brigar pelo reajuste salarial de 3,15% e uma parcela fixa de R$ 200, os professores estão preocupados com a criação de um sistema previdenciário administrado por diretores indicados pelo governo e com os decretos do governador.¿

Pelo menos 150 alunos realizaram um piquete em frente de uma das entradas da universidade na quinta-feira. ¿A Unicamp está mobilizada, mas os alunos, por enquanto, optaram por não ocupar prédios, como foi feito no início do ano¿, afirmou o estudante de Física Alexandre Lima, de 20 anos, membro da coordenadoria do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A principal reivindicação dos alunos da Unicamp é a revogação dos decretos de Serra e o aumento do número de professores.

Em nova assembléia, os docente da USP na capital decidiram ontem pela manutenção da greve. Além disso, aprovaram uma moção, que foi entregue à reitora Suely Vilela, na qual pedem que ela reveja o pedido de reintegração de posse.

Cerca de 70% dos funcionários da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto continuam em greve, inclusive com alguns departamentos fechados. Na segunda-feira, a categoria irá discutir a situação em assembléia e continuar a panfletagem na entrada da instituição. Vários alunos apóiam o movimento. Os professores entraram em greve parcialmente, na noite de quinta-feira, segundo a Associação dos Docentes da USP (Adusp) de Ribeirão, que não tinha um número preciso sobre as adesões à paralisação.

¿APAGADO¿

Um dos personagens centrais da questão universitária anda meio ¿apagado¿. O secretário do Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, tem ficado de lado quando o assunto é a negociação com os estudantes da USP. Ele foi um dos últimos a saber que haveria a reunião entre alunos e o secretário Marrey, na noite de quinta-feira.

Ontem, no Palácio dos Bandeirantes, falava-se até na extinção da secretaria chefiada por ele. Pinotti faz parte da cota do PFL no governo e, embora tenha uma relação razoável com os reitores, ao menos na USP, não é percebido como alguém que representa a universidade.