Título: Sob suspeita de integrar máfia, Rondeau deve deixar cargo hoje
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Nacional, p. A4

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, deve ser afastado hoje do cargo. No Palácio do Planalto, ontem, falava-se em demissão, pura e simples. Entre os padrinhos políticos da indicação de Rondeau para o ministério - o principal deles é o senador José Sarney (PMDB-AP) - havia ainda a busca de uma saída, segundo a qual o ministro pediria licença até que todos os fatos sejam apurados. Seria a tentativa de uma saída honrosa, visto que nem o grupo de Sarney acredita que, a esta altura, haja salvação para o ministro.

Rondeau é apontado pelas investigações da Polícia Federal como suspeito de ter recebido, no ministério, R$ 100 mil de propina do empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama.

Zuleido foi preso com outras 46 pessoas na semana passada pela Operação Navalha da Polícia Federal, todos sob a acusação de organizar uma máfia que fraudava licitações de programas governamentais como o Luz para Todos. O grupo se preparava, agora, para atacar também os empreendimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a menina-dos-olhos do segundo mandado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

SOLUÇÃO HARGREAVES

Uma alternativa à demissão imediata seria um pedido de licença do cargo por parte de Rondeau - uma saída no estilo da encontrada em 1993 por Henrique Hargreaves, então chefe da Casa Civil do presidente Itamar Franco (1992-1994). Apontado pela CPI dos Anões do Orçamento como suspeito por desvios de dinheiro público, Hargreaves se licenciou para responder às acusações fora da função e evitar problemas para Itamar. Comprovou que não estava envolvido nas irregularidades e voltou ao cargo.

Ontem, o próprio Itamar defendeu essa solução. ¿O problema da ética é sério. Há pouco ouvimos uma figura do governo dizer que enquanto não há prova não há o que se fazer. Nós, no nosso governo, entendíamos diferente¿, afirmou o ex-presidente, em Belo Horizonte.

A alternativa também agrada a outro ex-presidente. Sarney disse ao próprio ministro que o caso de Hargreaves criou uma espécie de ¿jurisprudência¿ para auxiliares que se sentirem injustiçados por denúncias.

Rondeau e o presidente vão se encontrar hoje, pela manhã. A cúpula do PMDB, o senador Renan Calheiros (AL), o ministro das Comunicações, Hélio Costa (MG), e o próprio senador Sarney (AP) também vão ao Palácio do Planalto, mas para uma reunião com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia. Nos movimentos políticos deflagrados ontem, Sarney procura se preservar. Ele não quer, por exemplo, que a vaga de Rondeau seja entendida como sendo sua - acha que o PMDB tem de assumi-la.

Na opinião dele, se o cargo for entendido como cota pessoal, outro partido pode querer tomá-lo. Se for considerado um direito dos peemedebistas, a legenda fica com crédito para encontrar outro ministro. Renan e o senador Romero Jucá (PMDB-RO) dizem temer que o PT queira a vaga do PMDB na pasta de Minas e Energia.

PROVAS

Ontem à noite, fontes do Planalto disseram ao Estado que Lula deveria receber em Brasília, na Base Aérea, na volta da viagem a Assunção e a Foz do Iguaçu, um informe sobre a situação política. O relato seria feito pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. No Ministério de Minas e Energia a situação de Rondeau era considerada ¿crítica¿ porque as provas da PF sobre o envolvimento do assessor especial Ivo Almeida Costa são consideradas ¿consistentes¿ e ¿demolidoras¿.

O envolvimento de Ivo, que trabalha há mais de uma década na condição de homem de confiança de Rondeau, com o lobista da Gautamo Sérgio Sá é considerado comprometedor. Nas gravações, Sérgio Sá presta contas ao empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautamo, de assuntos tratados com assessores do ministério, que, depois, são confirmados por escutas telefônicas, documentos, fotos e movimentações financeiras. Segundo fontes da PF, é improvável que Sérgio Sá estivesse blefando e usando o nome do ministro para se promover e mostrar serviço.