Título: Líderes resistem a criar CPI para máfia das obras
Autor: Moraes, Marcelo de e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Nacional, p. A6

Os deputados Augusto Carvalho (PPS-DF) e Júlio Delgado (PSB-MG) vão começar hoje a recolher assinaturas pela abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) mista para investigar corrupção nos três Poderes, a partir das descobertas feitas pela Polícia Federal nas Operações Navalha e Furacão. Os dois já sabem, porém, que será quase impossível driblar as resistências dentro do Congresso, uma vez que as apurações da PF apontam para o suposto envolvimento de políticos da maioria dos partidos, sejam governistas ou de oposição.

Ontem mesmo, parlamentares importantes como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), deram o tom desfavorável à abertura da CPI. Eles defenderam maior avanço nas investigações da PF antes de o Congresso participar das apurações.

¿Abrir uma CPI significa trazer para dentro do Congresso uma crise que é do Executivo¿, argumentou Agripino, que conversou sobre o assunto com o presidente do Senado, no fim da tarde. ¿Renan concordou que essa crise é do Executivo e não devemos trazê-la para cá.¿ Ele alegou que são os governos federal e estaduais que liberam o dinheiro e os parlamentares não podem admitir que se inverta o dolo, jogando a responsabilidade sobre o Legislativo. ¿É hora de pôr os pingos nos is e de jogar a culpa em quem tem culpa¿, afirmou Agripino, destacando que a oposição e o presidente do Senado estão ¿completamente afinados¿ nessa questão.

¿Não temos problema nenhum em fazer uma investigação sobre o caso no futuro se as apurações da PF apontarem para isso. Mas quem libera recursos é o Executivo e é ele quem tem de dar as explicações sobre as irregularidades. Enquanto nos ministérios não houver um gerente financeiro independente, um assessor jurídico independente, vão acontecer sempre casos como esse de agora¿, acrescentou Rodrigo Maia. ¿A Polícia Federal já escancarou tudo. Temos de pegar o que a PF fez e tomar as providências¿, defendeu José Múcio, para quem a CPI é desnecessária.

Júlio Delgado, no entanto, considera que a falta de providências efetivas do Congresso em investigações passadas está na origem dos novos escândalos. Por conta disso, acha que a CPI precisa ser instalada.

¿Esse escândalo é a continuidade dos outros. Como não estancaram a sangria, a hemorragia não acaba. Os problemas continuam porque a sensação de impunidade é grande. Então, acho que quem não deve não teme. Quem quer provar que não é farinha do mesmo saco deve assinar a CPI¿, afirmou Delgado.

MESMO BARCO

O problema é que a Operação Navalha teve um impacto suprapartidário. O PT viu ser atingido o prefeito de Camaçari (BA), Luiz Caetano. O PSDB, maior partido de oposição nacional ao PT, é aliado dos petistas na Bahia e até indicou a vice-prefeita de Camaçari, Tereza Giffoni.

Em Alagoas, o PSDB também está com integrantes da equipe de Teotônio Vilella sob investigação. Outro partido de oposição, o DEM viu o filho do ex-governador de Sergipe João Alves ser preso pela PF.

Já os governistas do PMDB vêem o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, ameaçado por conta de suposto recebimento de propina. O PSB tem o ex-governador do Maranhão José Reynaldo Tavares entre os presos pela operação. E o PDT acompanha as explicações do governador do Maranhão, Jackson Lago, que teve dois sobrinhos presos. Nessa intricada rede política, a CPI provocaria um desconforto coletivo.