Título: Lula não aceita aumentar energia de Itaipu
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Nacional, p. A8
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou ontem, em Assunção, pedido formal do governo paraguaio de aumento do preço pago pela energia vendida ao Brasil. Ao lado do presidente Nicanor Duarte, no palácio do governo, Lula disse que a renegociação do Tratado de Itaipu, de 1973, não é cogitada. ¿Não existem temas proibidos na nossa relação, mas uma renegociação está fora de cogitação¿, afirmou Lula. ¿O dever de um presidente é muitas vezes oscilar entre o calor de sua alma latino-americana e a racionalidade do seu papel de presidente.¿
Pelo Tratado de Itaipu, assinado pelas ditaduras militares de Emílio Garrastazu Médici e Alfredo Stroessner, cada um dos dois países tem o direito de utilizar 50% da energia produzida pela usina no Rio Paraná e a energia não consumida poderá ser vendida apenas para o outro sócio. Atualmente, o Paraguai consome só 6% do que tem direito.
Momentos antes da entrevista de Lula, Duarte, em discurso, pediu mudanças no tratado, sem entrar em detalhes. ¿Mesmo vendo a boa vontade do presidente Lula, creio que é preciso buscar um grande acordo político para mudar os termos do tratado, buscar mais justiça e igualdade no acordo, no curto e médio prazos, para refletir o que significa Itaipu para o Paraguai¿, afirmou, em solenidade no palácio presidencial, tomado pelo Exército brasileiro após o fim da Guerra do Paraguai (1864-1870).
Nos bastidores diplomáticos, o governo paraguaio pede ao Brasil o aumento do preço da energia excludente - no ano passado o País repassou US$ 373 milhões em royalties pelo uso da água do Rio Paraná e pela energia -, participação na gestão da usina de Itaipu e direito de vender para outros países a produção. O governo Lula avisou que não aceita renegociar esses itens.
A imprensa do Paraguai diz que o valor pago anualmente pelo Brasil ao Paraguai pela energia excedente está abaixo do preço de mercado e mostra uma posição ¿imperialista¿ do Brasil.
Lula disse que não era o momento de discutir a questão. ¿Cada coisa de uma vez, o que o Brasil pode fazer é ajudar o Paraguai a se desenvolver¿, afirmou.
O presidente brasileiro defendeu um plano de produção de biodiesel em território paraguaio e disse que o biocombustível será ¿uma revolução¿ em países como Brasil, Paraguai e Bolívia.
Lula avaliou ainda que as relações do Brasil com os países da América do Sul têm mais convergências do que divergências. ¿Conseguimos estabelecer entre nós uma crença e uma utopia política capazes de resolver os problemas¿, disse. ¿Mas não existem saídas fáceis, o que existem são decisões soberanas de cada país.¿