Título: Senado começa a debater nova lei de imigração
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Internacional, p. A12
O Senado americano começou ontem a debater a proposta de reforma na lei de imigração. Os senadores aprovaram por 69 votos a 23 a colocação do projeto em discussão. Apesar de contar com o apoio do presidente George W. Bush, o esboço da lei, feito em comum acordo por senadores republicanos e democratas, vem sendo duramente criticado por políticos, imigrantes e empresários.
Segundo os empresários, a nova lei não impedirá a grave escassez de mão-de-obra prevista para a próxima década. Uma das principais queixas é a exigência de eles terem de checar um banco de dados do governo para verificar se todos os empregados, atuais e antigos, cidadãos americanos ou estrangeiros, têm direito de trabalhar nos EUA.
'A proposta exigiria que os empresários verificassem a situação de 145 milhões de americanos. Isso é impossível e pode levar o sistema ao colapso', afirmou Susan Meisinger, presidente da Sociedade de Gestão de Recursos Humanos, que representa 215 mil executivos do setor.
Já a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, reclamou do sistema de pontuação criado para privilegiar a concessão de vistos permanentes a profissionais qualificados, em detrimento dos laços familiares, como na lei atual. 'Tenho sérias objeções a esse sistema porque ele mina os princípios de unificação familiar que têm sido fundamentais para a imigração americana', disse Nancy. Lindsey Graham, senador republicano e um dos autores do projeto, se defendeu dizendo que o sistema de pontuação foi concebido para que os EUA 'pudessem disputar as melhores mentes do mundo'.
Entretanto, Robert Hoffman, vice-presidente da companhia de software Oracle, disse que a lei nunca alcançará esse objetivo: 'Um sistema baseado no mérito para a concessão de vistos pode soar bem no meio empresarial, mas não resolve a crise de talento que ameaça as empresas americanas - na verdade, pode deixar o empresário e o imigrante em posição pior.' Ele assinalou que para obter o green card pelo atual sistema o imigrante precisa de um empregador que o patrocine. Pelo novo sistema, o imigrante não precisaria mais desse empregador, bastaria ter habilidades especiais e acumular pontos. O problema é que tais habilidades podem não atender à demanda dos empresários. 'Não se pode contratar um engenheiro químico para fazer o trabalho de um engenheiro de software', disse Hoffman, que ainda acredita que os empresários estejam em posição melhor que a do governo para decidir quais talentos são necessários.
'O sistema não faz sentido', afirmou David Isaacs, diretor de assuntos federais da Hewlett-Packard. 'Um sistema baseado no mérito tira a decisão de contratação de nossas mãos e a entregaria diretamente ao governo federal', disse. 'O projeto não dá aos empresários o que eles precisam, e alguns estão incomodados com isso', reclamou Denyse Sabagh, ex-presidente da Associação Americana dos Advogados de Imigração.
O maior temor do empresariado americano é que os EUA já estão perdendo a disputa por cérebros com outros países. 'Não temos trabalhadores suficientes para apoiar uma economia em crescimento. Muitas empresas americanas pagam bons salários, mas mesmo assim sofrem com a escassez de mão-de-obra', afirmou Randel Johnson, vice-presidente da Câmara de Comércio.
A Coalizão de Imigração de Nova York divulgou comunicado definindo o projeto como 'inaceitável'. Na Califórnia, o Fundo Educacional e de Defesa Legal Mexicano-Americano, uma das mais atuantes organizações de defesa dos imigrantes, afirmou que se opõe a vários pontos da lei, a qual classificou de 'imoral'.
Por causa das críticas, a votação, que deveria ser realizada até o fim da semana, pode ser adiada por mais duas semanas. A lei, que beneficiaria 12 milhões de imigrantes ilegais, é a última cartada do governo Bush sobre o tema.