Título: Economistas temem fim de reformas
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Economia, p. B4

A euforia que tomou conta do mercado financeiro está preocupando os defensores de reformas estruturais. O temor é que, com as boas perspectivas de crescimento da economia brasileira neste ano e nos próximos, o governo desista de vez de enfrentar os grupos que se opõem a mudanças mais profundas na área previdenciária, tributária e trabalhista.

Um pequeno sinal de alento veio da defesa recente, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da atualização da legislação trabalhista e das reformas da Previdência, tributária e política, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

A visão mais comum, porém, é de que o bom desempenho da economia pode desmobilizar definitivamente as forças que, dentro e fora do governo, lutam pelas reformas. ¿O momento certo de consertar o telhado é no dia de sol, mas o problema no Brasil é que no dia de sol todo mundo vai para a praia¿, diz Renato Fragelli, diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio.

O economista observa que o bom cenário atual deriva do fato de que os produtos minerais e do agronegócio exportados pelo Brasil estão num processo de alta de longo prazo no mercado internacional. Na falta de reformas que reduzam o ônus trabalhista e previdenciário, porém, ele acha que os riscos de interrupção do crescimento econômico aumentam e a situação dos setores industriais que mais empregam pode ficar cada vez mais difícil.

Fragelli lembra que é mais fácil fazer reformas que envolvem mexer em benefícios e direitos nos momentos que a economia está crescendo. ¿Meu medo é de que o País se inebrie com a bonança, perca a oportunidade de fazer as reformas e aí a gente cresça de 4% a 4,5% por alguns anos e o processo seja abortado¿, ele diz.

O economista Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, tem avaliação semelhante. ¿Eu gostaria de ver um governo menos cigarra e mais formiga neste momento¿, ele avalia.

Em um levantamento recente, em que analisou dois períodos de dez anos - de 1990 a 1999 e de 1997 a 2006 -, Marinis constatou que o crescimento da economia brasileira tornou-se muito mais dependente do crescimento do mundo nos últimos anos. Isso não quer dizer que o País tenha crescido ao mesmo ritmo da economia global, mas sim que suas oscilações para cima e para baixo acompanharam as do resto do mundo.

Marinis acha que aquela correlação decorre do aumento do grau de abertura da economia brasileira, que é a soma das exportações e importações como proporção do PIB. Segundo seus números, ele pulou de uma média de 14%,de 1990 a 1999, para 21,2%, de 2000 a 2006.

Um dos problemas do Brasil, raciocina Marinis, é que o País cresceu abaixo do ritmo global nos últimos anos, em momento de grande aquecimento da economia mundial. Se a situação externa piorar e o crescimento do mundo desacelerar para um ritmo medíocre, dificilmente o País manterá a trajetória de 5% almejada pelo governo, por causa da correlação com a economia global.

¿Nos últimos anos, o mundo puxou e o Brasil ficou para trás, então é de se esperar que nós continuemos a ter dificuldades para crescer acima da média mundial se o mundo desacelerar¿, conclui Marinis.

Ele acha que a reforma mais necessária para acelerar o ritmo de crescimento é a trabalhista, que tem um impacto direto na produtividade, via redução da informalidade. ¿Se tem um presidente na história do País com capacidade de colocar na mesma mesa patrões e empregado, ele é o Lula¿, diz Marinis, que também é formado em Ciência Política.