Título: Petrobrás admite gás boliviano como pagamento
Autor: Bahnemann, Wellington
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Economia, p. B7

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, admitiu ontem a possibilidade de a companhia ser indenizada com gás natural pela Bolívia em razão da estatização das refinarias no país. ¿Para nós, gás natural também é dinheiro. Se propuserem nos pagar dessa forma, iremos analisar¿, disse.

Ele não especificou em que condições seria feito o pagamento, porque a proposta ainda não teria sido apresentada pelo governo boliviano. De qualquer modo, o executivo afirmou que a preferência da companhia é receber em dinheiro os US$ 112 milhões acordados entre as partes como indenização pela estatização. ¿Esperamos que o acordo seja pago em dinheiro¿, disse, durante o Gas Summit, em São Paulo. Gabrielli confirmou que o ressarcimento pelos ativos será feito em dois pagamentos.

DEMANDA

Paralelamente ao processo de nacionalização do setor, a Bolívia tem de se preocupar em aumentar a produção de gás para atender a demanda interna e externa do combustível. ¿A Bolívia precisará atrair investimentos para atender aos seus compromissos¿, afirmou Gabrielli.

A capacidade de produção atual da Bolívia é de 40 milhões de metros cúbicos diários (m³/d). O Brasil importa 24 milhões de m³/d e tem perspectiva de comprar 30 milhões m³/d. O país ainda exporta entre 6 milhões e 7 milhões de m³/d para a Argentina e fez acordo para que a venda alcance 27 milhões de m³/d. A demanda interna é de 4 milhões de m³/d.

A estatal brasileira produz 17 milhões de m³/d de gás em solo boliviano. Gabrielli estima que, só para manter esse nível, serão necessários US$ 200 milhões de investimentos em 30 anos. Segundo ele, empresas concorrentes da Petrobrás na Bolívia têm condições de incrementar a oferta interna em 10 milhões de m³/d apenas com os campos já descobertos. Apesar do cenário, o presidente da Petrobrás não descartou novos investimentos na Bolívia. ¿Isso dependerá do risco e do retorno, que será avaliado a cada caso.¿

ALTERNATIVAS

A Petrobrás está estudando meios de ampliar a oferta de gás no Sul do País, atendido apenas pelo combustível vindo da Bolívia por meio do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Uma das possibilidades é a implantação de uma terceira unidade de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), em Santa Catarina, no Porto de São Francisco do Sul, além das duas previstas para o Nordeste.

Outra alternativa é a ampliação do trecho Sul do Gasbol, que liga São Paulo ao Rio Grande do Sul. Isso permitiria que a estatal escoasse para o Sul o GNL que chegará ao Rio de Janeiro e tornaria disponível mais gás boliviano. ¿Tudo dependerá da disponibilidade de equipamentos. Por enquanto, o reforço da perna sul do Gasbol tem se mostrado mais viável¿, disse Gabrielli.

A ampliação do Gasbol consta do plano estratégico da companhia para o período 2007-2011 como um dos principais projetos na área de infra-estrutura. Também está sendo avaliada a importação de gás do Uruguai para suprir a região Sul.