Título: Mercado internacional é o novo palco da disputa entre TAM e Gol
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2007, Negócios, p. B12
As duas companhias que já dominam nove de cada dez vôos no Brasil agora estão brigando pelo mercado internacional. Durante décadas, as ligações entre o Brasil e o exterior foram dominadas pela Varig e, em menor escala, pelas companhias internacionais. Com a crise da Varig, cerca de 70% dos vôos para o exterior foram parar nas mãos de estrangeiros. Agora, TAM e Gol iniciaram uma corrida para tentar ocupar o espaço aéreo internacional.
Ao comprar a Varig no final de março, a Gol levou 26 rotas internacionais, um bom reforço para quem só tem linhas para a América Latina e é conhecido por vôos de baixo custo e não por serviços de classe executiva ou primeira classe para o exterior. Como a Varig só estava usando 4 dessas linhas, a Gol está tentando convencer a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que o direito às outras rotas internacionais não expirou.
A compra da Varig pela Gol deu um choque na TAM. Pouco mais de um mês depois do anúncio do negócio, a TAM já assinou quatro contratos de parceria com companhias internacionais. O último acordo, com a alemã Lufthansa, foi anunciado ontem. 'A concorrência faz com que a gente acorde mais cedo, sempre', diz o vice-presidente de Planejamento da TAM, Paulo Castello Branco. 'Assim como nós, eles também estão acordando mais cedo.' Com as parcerias, a TAM oferece mais alternativas de vôos e conexões aos seus passageiros e atrai clientes das empresas estrangeiras que têm interesse em voar no Brasil. Só com o acordo com a United, a TAM espera um aumento de vendas de US$ 35 milhões.
As duas empresas estão redesenhando a competição internacional. Até o fim do mês, a Gol deverá transferir para a Varig freqüências que operava para Buenos Aires, diz o consultor Paulo Sampaio. Hoje, a Varig oferece duas freqüências diárias para Buenos Aires, mas passará a operar sete. 'Mais do que um code share (compartilhamento de assentos), vai haver um acordo operacional profundo da Gol com a Varig, com fusão de frota e malha aérea.'
O consultor de aviação André Castellini, da Bain & Co., lembra que o fato de não pertencer a nenhuma aliança global dá liberdade para a TAM firmar parcerias com quem achar conveniente. Foi assim com a LAN, que integra a One World. A TAP, a United Airlines e a Lufthansa são todas da Star Alliance. A TAM pode, inclusive, entrar para uma dessas alianças globais. 'Vamos olhar e decidir sobre a entrada em uma aliança no momento oportuno', disse o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, ao anunciar o acordo com a Lufthansa.
De acordo com um executivo do setor, a reação da Gol às parcerias da TAM poderá ser um acordo com a Aerolíneas Argentinas. O consultor Sampaio destaca que a Gol tem dificuldades em fechar parcerias com empresas internacionais porque não tem classe executiva nem primeira classe.
Mesmo em destinos sul-americanos, principalmente Buenos Aires e Santiago, Sampaio lembra que os passageiros são executivos exigentes, que preferem mais do que uma barra de cereal. É por isso, diz o consultor, que a Varig está herdando vôos da Gol para Buenos Aires, já que pode oferecer mais de uma classe de poltronas e serviço de bordo diferenciado, como fazem TAM e LAN.
O acordo da TAM com a Lufthansa, diz um especialista, ameaça seriamente a atuação da Varig na Alemanha. Isso porque a Varig, antiga parceira da Lufthansa por meio da Star Alliance, não tem como distribuir os passageiros para outros destinos. 'Esse acordo fechou as portas da Varig em Frankfurt', diz, lembrando que a cidade alemã é uma das principais distribuidoras de vôos para a Europa e Ásia.
A TAM fechou acordo com a Lufthansa mesmo sem voar para a Alemanha. Bologna disse que já pediu a autorização à Anac para os vôos e espera que a autorização seja dada até o final do semestre. A TAM quer operar sete freqüências semanais ainda neste ano e iniciar outras sete em 2008.
Já a parceria da TAM com a United Airlines, diz o diretor da companhia americana para a América Latina, Josué A. Meza, poderá funcionar como uma porta de entrada para a Ásia. Segundo ele, só a partir de Washington, a United oferece 300 destinos diferentes, como Pequim, Tóquio e Xangai.