Título: Nos debates, proposta de usar avião em reconstituição
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2007, Nacional, p. A5

As propostas dos parlamentares nas CPIs do Apagão tanto da Câmara quanto do Senado transformaram-se em um espetáculo à parte. As sugestões beiram o absurdo e não faltam teses conspiratórias sobre a queda do boeing da Gol, em 29 de setembro de 2006, quando 154 pessoas morreram. Parlamentares também aproveitam a presença de autoridades e empresários para fazer reivindicações pessoais.

Integrante da CPI do Senado, Wellington Salgado (PMDB-MG) foi autor de proposta esdrúxula: quer reconstituir as condições em que ocorreu o acidente. Ele anunciou requerimento para que a CPI peça avião da Embraer para refazer a rota do jato que se chocou com o boeing. ¿Quero pedir autorização para voar na mesma altura, à mesma velocidade, e chegar ao ponto onde houve o acidente.¿ E avisa: vai desligar o transponder, que serve para comunicação com controle e proteção de vôo.

Já o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) está certo de que a apuração do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica encobre a verdadeira causa da queda do boeing. Para Franco, o avião explodiu no ar. Ele não se conforma com o fato de que, após a colisão, não aparece mais nada na degravação dos diálogos da caixa-preta. ¿Não tem ninguém falando `ai meu Deus, vou morrer!¿ Isso é muito estranho.¿

Também foi Vic quem protagonizou momento constrangedor da CPI. Ele reclamou com o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, das barras de cereal distribuídas aos passageiros e ainda aproveitou para relatar dificuldades de sua filha em comprar passagem promocional de R$ 50. Constantino foi salvo pelo presidente da CPI, Marcelo Castro (PMDB-PI), segundo quem, graças à Gol, sua sogra e cinco familiares puderam ir de Teresina a Brasília, no Dia das Mães, com passagens a R$ 50.

Aliás, Castro, psiquiatra, virou expert em aviação. Em depoimento de autoridades da Aeronáutica já chegou a dizer que, se ele tivesse feito o plano de vôo do jato, o acidente não teria ocorrido. O relator Marco Maia (PT-RS), por sua vez, crê que sua experiência à frente da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre irá ajudá-lo. Afinal, diz, a sala de controle de trens deve ser muito semelhante à do controle do espaço aéreo.