Título: 'Não há 4,3 milhões de oligarcas'
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2007, Internacional, p. A8

Foi correto não renovar a concessão da RCTV?

O governo tinha de escolher se renovaria ou não essa licença e o fez de acordo com sua visão do assunto. Considero que as emissoras de TV na Venezuela deveriam servir para que todos pudessem se expressar. É fato que a emissora (estatal) Venezuelana de Televisão (VTV) nos últimos anos foi tomada por pessoas que só transmitem informações e opiniões que consideram adequadas. Esse não é o caminho. A VTV deveria de ser plural e diversa para que a sociedade pudesse expressar-se através dela. No caso da RCTV, por exemplo, havia um programa no qual você podia confrontar as idéias que eles defendiam. Além disso, há uma parte importante da população venezuelana, mais de 4,3 milhões de pessoas, que não votou em Chávez (nas eleições de dezembro) e sentia que podia se expressar pela RCTV, mas não pela VTV. Se nós (do Partido Podemos, chavista, mas que resiste a integrar o partido único de governo que Chávez vem estruturando) fôssemos os responsáveis por tomar a decisão, gostaríamos que todos os setores da sociedade pudessem se expressar.

E o que pode ser feito agora que a decisão já foi tomada?

É preciso evitar que ela seja utilizada tanto por setores minoritários violentos da oposição, que querem subverter a ordem, quanto por grupos minoritários oficialistas, que defendem a utilização dos mecanismos de poder para atropelar quem pensa diferente de nós. A Venezuela hoje precisa construir um cenário propício ao diálogo.

Mas muitos deputados governistas pregam o conflito. O sr. tem sido hostilizado por pensar diferente?

O meu discurso pode ser o único no Parlamento, mas reflete um sentimento amplamente disseminado na sociedade hoje. Os venezuelanos já estão fartos de guerra e as minorias terão de respeitar isso. Não me importa se os dirigentes não compreendem - o essencial é que os venezuelanos entendam para que não atendam ao chamado de setores violentos. No conjunto da sociedade, há quem pense diferente de nós, e não custa nada escutá-los. Não os setores minoritários e conspiradores, mas as outras pessoas que votam contra o presidente Chávez. Não é verdade que todos são oligarcas. Na Venezuela não há 4,3 milhões de oligarcas. Há, entre aqueles que não apóiam o presidente, pessoas pobres e da classe média. E o que nós, do oficialismo, iremos fazer? Vamos perseguí-los todos? Precisamos discutir e explicar nossas idéias para que, com o tempo, todos aceitem esse projeto.

Chávez conclamou seus simpatizantes a descerem das favelas para defender o país de um possível golpe. Isto não é montar o cenário para um massacre?

Bem (pausa). O presidente é quem poderia explicar bem isso, mas acho o que ele fez foi um chamado para as pessoas ficarem atentas, alertas para o caso de um golpe hipotético dessas forças desestabilizadoras e radicais - que de fato existem na oposição, embora não sejam toda a oposição.