Título: 'Muita gente vai ter de engolir o que disse do governo'
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2007, Nacional, p. A4

¿Muita gente vai engolir o que disse do governo¿, afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem ao estilo do ex-treinador Zagallo, que, ao vencer a Copa América, em 1997, e ser confirmado no cargo para dirigir a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1998, na França, disse aos jornalistas e torcedores: ¿Vocês vão ter de me engolir.¿

O presidente referia-se especificamente ao deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), nomeado por ele para o Ministério da Integração Nacional, e ao professor Mangabeira Unger, que assumirá a Secretaria de Ações de Longo Prazo do governo. O primeiro sempre foi um crítico do governo do PT e atacou Lula principalmente durante 2005, por causa do escândalo do mensalão; o segundo chegou a publicar um artigo no qual pedia o impeachment de Lula e qualificava seu governo de ¿o mais corrupto da história¿.

O artigo acabou sendo retirado pelo autor da página que Mangabeira mantém na internet. O presidente também interpretou como um sinal de ¿evolução¿ a mudança de comportamento de seus ex-desafetos.

¿Nada como um pouco do passar do tempo para as coisas irem se assentando. E todo ser humano é plausível de erro. As pessoas podem errar¿, disse Lula, contemporizando. ¿Eu já fiz julgamento precipitado de quantas coisas? Eu me lembro que quando o (José) Sarney lançou a Ferrovia Norte-Sul, eu me esgoelava no Congresso Nacional contra. Eu e outras pessoas.¿

TOCAR O BARCO

Essa não foi a primeira vez que Lula mostrou arrependimento por causa da Norte-Sul. Ele já se penitenciou até na frente de Sarney, outro que também figura hoje na longa lista de aliados de seu governo.

¿Então, eu penso que o ser humano é assim. Nós falamos uma coisa hoje, amanhã percebemos que estamos errados e humildemente temos de reconhecer que erramos, pedir desculpas do que fizemos, fazer autocrítica e tocar o barco para frente¿, continuou Lula, durante a primeira entrevista coletiva de seu segundo mandato. ¿O que a gente não pode é ficar com o passado como se fosse uma espada na cabeça das pessoas, sem permitir que elas possam evoluir.¿

Para o presidente, quando se faz uma aliança política é preciso pagar um preço. E deu um exemplo: ¿Eu perdi três eleições, e cada eleição que eu perdia, perdia por 15%. Chegou um dia em que alguém me convenceu de que eu não precisava mais ficar fazendo discurso para agradar ao PT, que eu não precisava mais ficar fazendo discurso para agradar aos 30% ou 35% que eu tive em todas as eleições. Era preciso que eu me preparasse para ter do meu lado os 15% que faltavam. E eu me preparei e ganhei a eleição.¿

DEFESA

Da mesma forma, disse Lula, quando montou a coalizão de governo, não fez acordo com pessoas, mas com partidos, que são os responsáveis pela indicação dos nomes. ¿Cabe ao partido político indicar as pessoas que vão fazer parte do governo, desde que as pessoas - e todo mundo que é indicado passa por um critério que pode ter ou não problema - estejam aptas para exercer a sua função.¿

O fato de Geddel tê-lo atacado duramente durante o primeiro mandato não tem importância, na avaliação do presidente, porque ele não era da coalizão. ¿Agora, você vai ver essa pessoa, pelo Brasil afora, defendendo o governo e defendendo o presidente Lula.¿

Com relação ao professor Mangabeira Unger, que está filiado ao PRB, previu que ocorrerá a mesma coisa. ¿Vamos ver o que o Mangabeira vai fazer daqui para frente, vamos ver o que os ministros vão fazer daqui para frente. O que fizeram para trás faz parte do passado.¿