Título: 'Não adianta ficar nervoso', diz Lula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2007, Economia, p. B3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que não adianta o empresariado ficar 'nervoso', porque a atual política de câmbio flutuante será mantida. A criação de um câmbio setorial, com cotação diferenciada em relação ao dólar, foi rechaçada por Lula.

Ao optar por uma resposta sem 'mágicas' às queixas recorrentes dos industriais, o presidente indicou que a desoneração de tributos federais e a elevação de tarifas de importação para o teto de 35% serão as principais alternativas para suavizar os impactos do câmbio valorizado na produção.

'Nós não podemos resolver o problema do câmbio como alguns querem que a gente resolva: cria o câmbio para agricultura, cria o câmbio-soja, o câmbio-automóvel, o câmbio-parafuso. Não dá. O câmbio vai continuar flutuante, já faz algum tempo que está na casa dos R$ 2 e vai se ajustar', afirmou, durante entrevista à imprensa no Palácio do Planalto.

'Eu estou tranqüilo. Não adianta a gente ficar nervoso. (...) De vez em quando, eu pergunto: vocês querem o câmbio fixo? Não. Então, meu caro, vamos deixá-lo flutuar.' O presidente fez essas afirmações enquanto o dólar rompia a barreira de R$ 2,00 e oscilava entre R$ 1,997 e R$ 1,996.

Em sua exposição, Lula defendeu a estratégia do Banco Central de comprar dólares para evitar queda ainda mais acentuada na cotação e explicou que a moeda americana perde valor em relação a 'quase todas as moedas'. Para ele, o problema da valorização do real deve ser enfrentado com a seguinte receita: elevação das importações de máquinas e equipamentos como meio de aumentar a competitividade dos setores nacionais e redução das taxas de juros. 'Não tem milagre.'

Em ressonância, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reiterou que o governo não embarcará na 'aventura' de adotar medidas artificiais, como a âncora cambial. Insistiu ainda que medidas para a redução de custos financeiros e tributários e para a melhoria da infra-estrutura, em preparação pelo governo, compensarão o prejuízo dos setores com o câmbio. 'Além disso, as empresas brasileiras que exportam podem se defender no mercado local, porque o consumo interno está aumentando', afirmou Mantega.

CHINA

O presidente Lula indicou ainda que a abertura de controvérsias na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a China é um caminho que deve ser mais explorado pelos setores privados. Durante a entrevista, Lula chegou a justificar uma das mais polêmicas iniciativas de seu primeiro mandato - o reconhecimento da China como uma economia de mercado - como um meio de induzir aquele país a submeter-se às normas da OMC. 'Não estamos competindo com a Alemanha ou com os Estados Unidos. Estamos competindo com a China, e as condições da China, do ponto de vista da relação trabalho-capital, são muito mais favoráveis do que a relação aqui dentro do Brasil', defendeu.

Somada à desoneração da folha de pagamento, a elevação de tarifas de importação de produtos industrializados ao teto permitido pela OMC, de 35%, foi a escolha do governo Lula para enfrentar o dilema real que afeta a competitividade dos setores brasileiros: a concorrência com a China. A saída protecionista, entretanto, encontra resistência em áreas do governo que argumentam que a iniciativa estimulará o subfaturamento e o contrabando. 'Desde a época dos fenícios era assim', afirmou uma fonte.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, comentou que o Brasil vai atingir um ponto de equilíbrio em relação ao câmbio. Sobre a cotação da moeda ter rompido a barreira dos R$ 2,00, ele disse que esse cenário decorre do bom momento macroeconômico. 'O País tem indicadores excelentes e tem atraído capital. Isso gera essa flutuação do dólar para baixo. Nós vamos encontrar um ponto de equilíbrio', afirmou, antes de sua palestra no XIX Fórum Nacional, na sede do BNDES.

Sobre os impactos do câmbio valorizado no setor exportador, o ministro considera que o segmento tem registrado resultados excelentes, mesmo com a valorização do real já ocorrendo há meses. 'Temos um setor exportador competitivo e competente', disse.

FRASES

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente ¿Nós não podemos resolver o problema do câmbio como alguns querem que a gente resolva: cria o câmbio para agricultura, o câmbio-soja, o câmbio-automóvel, o câmbio-parafuso. Não dá. O câmbio vai continuar flutuante ¿

¿Eu estou tranqüilo. Não adianta a gente ficar nervoso. (...) De vez em quando, eu pergunto: vocês querem o câmbio fixo? Não. Então, meu caro, vamos deixá-lo flutuar'.