Título: Socorro do governo vai incluir as montadoras
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2007, Economia, p. B5
O governo listou cinco setores produtivos que deverão compor uma política industrial de ¿emergência¿, disse ontem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Além dos que já estavam anunciados - têxteis e vestuários, calçados, móveis -, Jorge acrescentou à lista o automotivo e a indústria naval. Os três primeiros sofrem com o dólar barato. Os outros dois, porque precisam expandir sua capacidade de produção.
Eles deverão ser beneficiados com medidas como a redução dos tributos cobrados sobre a folha de pagamento. Também haverá linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com desembolso mais rápido. Outra possível ajuda será a elevação da alíquota do Imposto de Importação (II) para até 35%, para dificultar a concorrência dos importados. Miguel Jorge não detalhou quais medidas serão aplicadas a qual setor.
Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a redução da carga tributária sobre a folha de pagamentos constará de um projeto de lei a ser finalizado até junho e deverá beneficiar toda a economia, e não só alguns setores. A idéia, explicou, é retirar a contribuição patronal do INSS hoje cobrada sobre a folha e transferi-la para o faturamento da empresa ou para uma parcela do faturamento chamada valor agregado (segundo Bernardo, a parte do faturamento que ainda não foi tributada).
De acordo com o ministro Miguel Jorge, o setor automotivo virou prioridade da política industrial porque deverá atingir o topo de utilização da capacidade produtiva em 2008 e, no futuro próximo, experimentará a concorrência com automóveis populares indianos e chineses.
Tradicionalmente, a expansão das plantas automotivas do País depende de medidas oficiais de atração de investimentos, que começam a ser estudadas pelo governo.
¿Para o setor automotivo, chegar ao limite da capacidade produtiva é o fim do mundo. Os investimentos têm de ser estudados pelas montadoras desde já¿, afirmou o ministro.
No caso da indústria naval, segundo Jorge, o governo pretende ampliar o atual programa, voltado para a construção de navios para a Petrobrás.
A proposta seria incentivar também a recuperação de estaleiros desativados, que seriam orientados para a fabricação de embarcações destinadas ao transporte de cabotagem.
Os outros três setores, segundo o ministro, seriam atendidos pela política industrial emergencial por uma razão mais preocupante que o custo cambial: a concorrência com a China. De acordo com Jorge, muitos empresários brasileiros queixam-se das dificuldades provocadas pela taxa de câmbio valorizada, mas perdem fatias de seus mercados para os chineses, que muitas vezes exportam a preços subfaturados ou se valem do contrabandeados.
Questionado sobre a declaração do embaixador da China no Brasil, Chen Duqing, que anteontem receitou ao empresariado brasileiro competir mais e não reclamar, Miguel Jorge foi sintético: ¿Prefiro não comentar.Afinal, é proibido trabalhar 16 horas por dia no Brasil¿.
A cotação do dólar abaixo de R$ 2, ontem, reforçou o discurso de setores empresariais cobrando medidas compensatórias por parte do governo. ¿O quadro fica muito complicado porque a China, nosso principal concorrente, preservou sua moeda desvalorizada para manter a competitividade de seus produtos nos mercados mundiais¿, disse o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Fernando Pimentel.