Título: Contrato foi fechado quando irmão de Renan era secretário
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Nacional, p. A5

Os indícios de ligação do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) - irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - com a Gautama remontam à década passada. Sob a gestão de Olavo na Secretaria de Infra-Estrutura de Alagoas, em 1997, a empresa firmou contrato com o governo estadual para as obras de macrodrenagem no Tabuleiro do Martins, um dos empreendimentos da Gautama que não podem receber recursos federais por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).

O TCU apontou uma série de irregularidades, como ¿pagamento indevido de serviços¿ e subcontratação ilegal da Cipesa Engenharia. O tribunal informa que o contrato, firmado em 1997, totalizava R$ 48,1 milhões. Nos grampos feitos pela Polícia Federal, Olavo é chamado de ¿Olavinho¿ pelo dono da Gautama, Zuleido Veras.

De acordo com o inquérito, a diretora comercial da empresa, Maria de Fátima Palmeira, era o ¿braço direito¿ de Zuleido. A PF indica que ela havia trabalhado na Secretaria de Infra-Estrutura de Alagoas, ¿o que proporcionou à organização criminosa fácil acesso à estrutura administrativa¿ da secretaria.

Procurado ontem várias vezes ontem, em seu gabinete na Câmara, Olavo não foi encontrado para comentar as investigações da Polícia Federal.

TEOTÔNIO

Várias gravações mostram o empenho de Zuleido e de seus subordinados para conseguir que o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), tentasse incluir a macrodrenagem do Tabuleiro do Martins no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Fátima e alguns funcionários falam até em escrever um ofício, que deveria ser assinado por Teotônio, para pressionar o Ministério das Cidades nesse sentido.

Os grampos demonstram que Enéas Alencastro, representante do governo alagoano em Brasília, era fiel ao esquema e acabou virando um interlocutor do próprio Zuleido em Brasília. ¿Você fala com o chefe¿, queixa-se Fátima, em uma ligação. ¿É a única pessoa da empresa que me procura¿, respondeu Enéas, em tom debochado.

De acordo com uma gravação, Enéas teria feito uma ponte entre o empreiteiro e o governador, que é tratado pelo apelido ¿Teo¿. Em outra conversa, Zuleido exige que Fátima cobrasse o pagamento de seus serviços - era o dia do enterro do pai do secretário de Fazenda de Alagoas.

Em outro trecho, falando de seus interesses em Alagoas, Zuleido comenta: ¿O governo é do Teo e ele está chamando Enéas. Ele chamou porque precisa de uma pessoa que mande. O governo é do Teo e não do Olavo.¿

RESPOSTA

Em entrevista coletiva à imprensa, Teotônio negou ontem ligação com a máfia das obras públicas e garantiu a lisura do seu governo no trato com os recursos públicos.

¿Não tenho qualquer envolvimento com a empresa Gautama e acredito que as turbulências pelas quais estamos passando estão acontecendo por causa do trabalho que está sendo realizado. Tem muita gente incomodada com as nossas ações¿, afirmou o tucano, eleito governador com o apoio de Renan. ¿Não falta muito para o Estado sair da situação em que encontramos.¿