Título: No Piauí, Gautama chegou a elaborar edital de obra
Autor: Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Nacional, p. A8

A investigação da Polícia Federal revela que o esquema de fraudes em licitações de obras públicas liderado pela Construtora Gautama não tinha contatos no Piauí apenas com o presidente da Companhia Energética do Estado, a Cepisa, Jorge Targa Juni, preso na semana passada pela PF na Operação Navalha. A máfia também teria se aproximado do governador Wellington Dias (PT).

A proximidade da quadrilha com o governo do Piauí era tão grande que, segundo a PF, a própria Gautama fez o aviso e o edital de licitação para uma obra do programa federal Luz para Todos no Estado. O inquérito da Polícia Federal aponta que o lobista da empresa Engevix Engenharia Sérgio Luiz Pompeu Sá, que seria integrante do grupo do empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, ¿intermediou contatos com o governador Wellington Dias, Jorge Targa e o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia)¿.

Em uma das escutas telefônicas gravadas - obtidas pela Polícia Federal com autorização da Justiça -, Sérgio Sá avisa Zuleido Veras que vai encontrar-se com Dias no Palácio do Planalto, em Brasília, porque o governador participará de solenidade. Em outras conversas, Sá diz a Zuleido ter conversado com Wellington Dias. Em uma das interceptações telefônicas, Sérgio Sá comenta com o empresário que chegou a sugerir ao governador do Piauí que trocasse de advogado, contratando os serviços do mesmo profissional que atendia a Gautama, identificado como Álvaro.

A conversa entre Sérgio Sá e Zuleido na qual os dois falam sobre Wellington Dias ocorreu em 27 de agosto do ano passado, em plena campanha eleitoral, na qual o petista disputava a reeleição. O diálogo, de acordo com a Polícia Federal, tem como tema central uma nota publicada pela revista Veja, na qual é dito que o governador seria acusado de receber dinheiro do governo Lula para utilização na compra de ambulâncias e no processo eleitoral.

Sérgio Sá diz ainda a Zuleido ter marcado um encontro com Dias e que levaria o governador à casa de Valmir. Seria uma referência ao ministro Valmir Campello, na época presidente do Tribunal de Contas da União (TCU). Em outra conversa com Zuleido, Sérgio Sá relata ter corrido ¿tudo bem¿ em encontro com Dias, Osmar (não identificado) e Jorge Targa.

Sá afirma que eles conversaram com Rondeau e que ¿estava tudo encaminhado com relação ao resto do dinheiro para o Luz Para Todos. No mesmo diálogo, Sá diz ao empreiteiro que eles ¿conversaram bastante sobre a questão dos editais¿.

Segundo consta no inquérito da PF, em 29 de junho do ano passado foi publicado no Diário Oficial da União aviso de licitação da concorrência que tinha por objeto ¿a contratação de pessoa jurídica para construção de redes de distribuição em média e baixa tensão, com fornecimento parcial de materiais e integral de mão-de-obra para atender 15.850 consumidores de domicílios e estabelecimentos rurais no Estado do Piauí do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso de Energia Elétrica Luz Para Todos, sexta etapa, ainda não contemplados em outros programas de eletrificação¿.

Nas investigações, de acordo com a Polícia Federal, verificou-se que esse aviso de licitação e até o edital da licitação foram feitos pela Gautama, por intermédio de seu empregado João Manuel Soares Barros. A Gautama, segundo publicação no Diário Oficial da União do dia 6 de novembro do ano passado, foi vencedora da licitação.

RESPOSTA

Em nota, o governador do Piauí esclareceu que desde 2003, e até o fim de seu mandato, cobrará todos os ministérios ¿sem exceção, a agilidade de projetos de interesse¿ do Piauí. ¿Assim, jamais tratou desse ou daquele processo de alguma empresa especificamente, nem mesmo do programa Luz Para Todos, do Ministério de Minas e Energia.¿

A nota diz que Dias ¿não defendeu e jamais defenderá pleitos ilegais em qualquer setor¿ da administração pública. ¿O governador defende apenas a agilidade da execução de todos os processos que venham a beneficiar a população do Piauí.¿

Ele destaca que ¿em nenhum momento tratou de interesses particulares de representantes da empresa Gautama ou de qualquer outra¿ e esclarece que o Piauí não tem nenhum contrato com a construtora. ¿Dias espera que investigação da PF seja conduzida de maneira responsável e não prejudique, de maneira alguma, o andamento do programa Luz para Todos no Estado¿, conclui a nota.