Título: Máfia tentou esquema para influir no TCU
Autor: Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Nacional, p. A8

Para garantir controle total sobre os acertos fraudulentos, a máfia das obras públicas, que segundo a PF era comandada pela Construtora Gautama, tentou incluir o Tribunal de Contas da União (TCU) em seu raio de ação. No esquema, a empreiteira teria alguns deputados como aliados no trabalho de pressionar os ministros do tribunal, que são sempre indicados pelo Congresso. A idéia era tirar proveito dos favores e propinas pagas por emendas parlamentares ao Orçamento, numa relação que levasse os políticos a cobrar boa vontade do TCU na hora de fiscalizar as obras públicas tocadas pela Gautama.

Nas escutas telefônicas gravadas pela PF com autorização judicial, a empreiteira também aparece fazendo articulações para cima do Ministério da Integração Social, de Geddel Vieira Lima. Em uma delas, Zuleido Veras, dono da Gautama, conta a João Alves Neto, filho do ex-governador de Sergipe João Alves (DEM), que foi à posse e comemora a chegada de Geddel à Esplanada dos Ministérios: ¿Não é todo o dia que você tem um ministro baiano e amigo.¿ Outro ministério na mira da Gautama, como mostra o inquérito da Operação Navalha, era o de Márcio Fortes (Cidades).

As escutas indicam que o deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), fazia lobby para a Gautama. Com Zuleido, ele conversa sobre decisão desfavorável à empreiteira dada pelo ministro do TCU Ubiratan Aguiar. O empreiteiro orienta Magalhães a dar um pito no ministro, sugerindo o que falar. ¿Olha, meu amigo, não faça mais isso com a gente não, que a empresa é minha. Pode dizer assim¿, frisa. ¿Lógico, não vou dar atestado a ele não¿, responde Magalhães. O deputado nega envolvimento com o esquema. ¿Vou mostrar a minha inocência¿, disse ele.

MAIS FISCALIZAÇÃO

Para os ministros do TCU, os diálogos obtidos pela PF demonstram a necessidade de dar novos instrumentos fiscalizadores ao tribunal, como o direito de quebrar o sigilo bancário e fiscal de investigados. Os ministros asseguram que a Gautama foi condenada em sete dos nove processos que sofre no TCU. ¿Eu mesmo a condenei em dois processos¿, afirmou Aguiar.

O diálogo de Magalhães com Zuleido chocou os ministros, mas não é o único. Para pressionar o TCU, a Gautama também usou como intermediário Sérgio Sá, executivo da Engevix. Nos grampos, ele afirma que conhece os ministros do TCU Valmir Campelo, ainda em atividade, e Adylson Motta, que se aposentou este ano. E relata várias conversas que teria tido com Adylson Motta sobre processo de interesse da Gautama.

Em uma delas, de 10 de agosto, falou de seu suposto contato com Adylson Motta à diretora da Gautama Fátima Palmeira, ao discutir uma representação contra a construtora apresentada no TCU, supostamente municiada por um empresário adversário de Zuleido. Em outra, Sá busca informações sobre denúncias feitas no TCU por um ex-sócio de Zuleido. E ouve do ministro uma advertência: ¿Diz pro teu amigo que esse negócio aqui vai virar um novelo que não vai terminar.¿