Título: PF pede inquérito contra ministros e parlamentares
Autor: Mendes, Vannildo e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Nacional, p. A9

A Polícia Federal pediu à Procuradoria-Geral da República que abra no Supremo Tribunal Federal (STF) inquérito para investigar o envolvimento de parlamentares e ministros com a máfia das obras públicas. Desdobramento do trabalho original, que corre no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o novo inquérito seria destinado a investigar apenas autoridades com direito a foro especial.

Além do ministro demissionário de Minas e Energia, Silas Rondeau, e do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que teria viajado em avião fretado pelo empresário Zuleido Veras, preso como chefe da quadrilha e dono da Construtora Gautama, outros parlamentares foram alcançados pelas investigações. Junto com o pedido, a PF anexou lista com nomes de mais de 100 políticos - a maioria parlamentares - presenteados por Zuleido no final do ano passado.

A lista contém na maior parte presentes de valor modesto, como uísque, gravatas, canetas de grife e também convites para inaugurações de obras. Mas há também presentes de maior valor, um deles destinado a Delcídio. Na contabilidade paralela da Gautama, aparece o nome do senador, seguido do valor - R$ 24 mil - e da descrição da despesa, ¿aluguel de jatinho¿. Delcídio confirmou a viagem, que teria feito para o enterro do sogro, mas negou que tenha sido paga por Zuleido.

Entre os nomes listados está, por exemplo, o do senador Romeu Tuma (DEM-SP), ao lado do qual aparece o tipo de regalo - uísque - escrito à mão. Procurado, Tuma não retornou as ligações ontem à noite. Outro presenteado por Zuleido é o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que era ministro do Trabalho na época do mimo. Além disso, Wagner passeou em uma lancha de Zuleido, em Salvador, como cicerone da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, meses atrás. Anteontem o ministro disse não saber que a embarcação era de Zuleido. A assessoria do governador informou ontem que não conseguiu localizá-lo para comentar a informação.

Segundo policial que participou da apreensão dos documentos, a contabilidade de Zuleido é bem feita e não deixa dúvidas sobre o assédio dele à classe política. A própria PF, porém, avalia que a lista de presentes é insuficiente para incriminar os políticos, já que a prática é comum nas empresas.

NOVAS PRISÕES

A PF prepara nova leva de pedidos de prisão e indiciamento. A análise dos documentos apreendidos na Gautama, segundo fontes policiais, revelou indícios que já permitem efetuar pelo menos mais 30 prisões e indiciamentos.

A nova leva deve incluir governadores e parlamentares, entre os quais três senadores e um grupo expressivo de deputados, vários que estão ou estiveram na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, na qual a Gautama tinha um forte lobby para aprovar emendas para obras do seu interesse.

Dos primeiros 47 presos na Operação Navalha, 22 já estão soltos. Os depoimentos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) devem terminar amanhã.