Título: Comboio da ONU atingido no Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Internacional, p. A14

Um comboio da ONU com ajuda humanitária foi atingido ontem quando tentava entrar no campo de refugiados palestinos de Nahr el-Bared, no norte do Líbano, e pelo menos 15 pessoas foram mortas ou feridas, disse um funcionário da entidade. Segundo a TV Al-Arabiya, de Dubai, quatro civis foram mortos no ataque quando tentavam receber alimentos e medicamentos.

O incidente ocorreu em meio a intensos confrontos entre o Exército libanês e o grupo radical sunita Fatah al-Islam. Antes do ataque de ontem, os combates, iniciados no domingo, já haviam deixado pelo menos 81 mortos. As duas partes tinham declarado uma trégua para permitir o envio da ajuda humanitária e a retirada dos feridos do campo, que fica perto da cidade de Trípoli.

Não estava claro quem disparou contra o comboio. Segundo um funcionário da ONU, três caminhões foram atingidos por disparos do Exército contra posições dos militantes do Fatah al-Islam. Um oficial libanês disse que o Exército não abriu fogo contra o comboio, atribuindo o ataque a membros do Fatah al-Islam.

O porta-voz do grupo, Abu Salim Taha, disse que o Fatah al-Islam havia declarado unilateralmente a trégua para 'acabar com a morte de crianças e idosos'. Taha negou que a organização tenha ligação com os atentados à bomba de domingo e segunda-feira em Beirute. Um comunicado emitido em nome do Fatah tinha assumido a autoria dos ataques e ameaçava com outros.

Fontes da ONU indicaram que o incidente em Nahr el-Bared foi causado por falta de coordenação. Após um reunião de gabinete, o governo libanês ordenou que o Exército aniquile os militantes do Fatah al-Islam - acusados de ligação com Al-Qaeda e Síria - entrincheirados nesse campo.

Por causa do ataque de ontem, a ONU não pôde distribuir a ajuda no campo, de onde milhares de pessoas fugiram, aproveitando a redução dos confrontos. Muitos lotaram automóveis, enquanto outros partiram a pé para campos de refugiados próximos em meio a disparos de franco-atiradores. 'A situação aqui é terrível. Há muitos mortos sob os escombros. Não temos água, comida ou eletricidade', disse Mouein Safadi.

As tensões também aumentaram em outros campos do sul, provocando o temor de que a campanha contra o Fatah al-Islam possa provocar um levante de refugiados palestinos (leia ao lado). Os confrontos começaram domingo, quando policiais que buscavam ladrões de banco invadiram um apartamento em Trípoli ocupado por militantes.

Em Washington, o Departamento de Estado informou que Beirute pediu aos EUA uma ajuda militar de US$ 280 milhões para combater o Fatah. O pedido está sendo estudado. Em 2006, os EUA destinaram US$ 40 milhões em ajuda militar (treinamento e equipamento) ao governo libanês.