Título: Reitoria da USP faz concessões aos alunos, mas não põe fim à
Autor: Godoy, Marcelo e Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Vida&, p. A15

Novas concessões aos alunos e mais prazo para a negociação. Assim a direção da Universidade de São Paulo (USP) reagiu à decisão de alunos e funcionários de manter a ocupação do prédio da reitoria. A estratégia da reitoria e da polícia continua a de demonstrar vontade de buscar ¿uma solução pacífica¿, mas, pela primeira vez desde o começo do movimento, a reitora da universidade, Suely Vilela, disse ter chegado à sua última proposta. ¿A negociação tem de ser feita, mas tem um limite.¿ E para ela o limite chegou.

Agora é a Polícia Militar que busca seu último contato com os alunos e informa: vai prender todo mundo por desobediência à ordem judicial caso a reitoria não seja desocupada.

A primeira novidade de ontem veio de Suely Vilela. Depois de aceitar discutir 5 das 17 reivindicações do movimento, e de dar como prazo a meia-noite de terça-feira, a reitora da USP fez nova proposta aos alunos que ocupam o prédio administrativo da instituição há 20 dias.

Ela incluiu outros três pontos na negociação - a circulação de ônibus no campus e a abertura do bandejão nos fins de semana e a retirada de um projeto que tornava mais duras as regras para jubilação (perda da vaga), apresentado ao Conselho Universitário. Além disso, deu novo prazo para a resposta dos ocupantes: uma posição por escrito até hoje.

Ontem, em nova assembléia, os estudantes decidiram às 21h50 manter a ocupação. A reunião estava sob o comando de jovens com camisetas da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR), ligada ao Partido da Causa Operária (PCO).

A reitora entregou sua proposta aos alunos em uma reunião na Escola Politécnica. Eram 17 horas. ¿Nosso objetivo é acabar com a ocupação. Apresentamos esses três pontos para isso.¿ Segundo ela, essa é sua última proposta, pois todas as demais reivindicações não dependem de uma decisão sua para serem atendidas. Desde o dia 3, quando começou a ocupação, a reitora se reuniu diversas vezes com os estudantes.

Da Poli, Suely rumou para a sede do Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen), onde encontrou o coronel Joviano Conceição de Lima, chefe do Comando de Policiamento de Choque (CPChoq), da PM. Joviano pedira a reunião, pois queria ter um inventário do que existe no prédio da reitoria, até mesmo como forma de responsabilizar seus ocupantes por qualquer dano constatado após o cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse do prédio.

Na saída, o coronel contou que, caso os alunos decidam manter a ocupação, ele vai explicar aos estudantes como será feita a operação da PM. ¿Já está tudo pronto.¿ Ela deve contar com cerca de mil homens, de todas as unidades do CPChoq - Rota, o 2º Batalhão de Choque, o 3º Batalhão de Choque (com os escudeiros e o canil) e o Regimento de Cavalaria.

O serviço reservado da PM recebeu ontem informação de que alguns ocupantes da reitoria compraram gasolina, segundo o coronel, para atirar nos policiais. Joviano teme uma radicalização. Mas, se houver, garante que ¿a resposta será à altura¿. O comandante ameaçou com prisão todos os que estão no prédio, caso decidam desobedecer a ordem judicial. Para tanto, até os ônibus que devem transportá-los para a cadeia já estão de prontidão.

O coronel disse que além do crime de desobediência, outras acusações podem ser feitas contra os invasores, como furto, danos ao patrimônio público e até formação de quadrilha. Mesmo resistência pacífica, como se deitar no chão, poderá ser enquadrada como desobediência.

Segundo Joviano, não será a sua vontade que prevalecerá em caso de ação. ¿Mas a da reitoria, do Comando-Geral, da Secretaria da Segurança, do governador e do Judiciário.¿ Ele contou que o governador José Serra acompanha a crise.

Hoje os alunos devem se reunir com o jurista Dalmo Dallari. Os professores farão assembléia às 10 horas para decidir se entram em greve. O movimento é desvinculado da ocupação.

FÓRUM

Leitores do portal Estadão responderam à pergunta: ¿Você concorda com a ocupação da reitoria da USP?¿

¿A invasão da reitoria é um ato estúpido e criminoso que não pode ser tolerada pela sociedade.¿ Valdecir Trindade, Londrina (PR)

Ficar classificando estudantes de vagabundos e arruaceiros é a forma mais simples de não fazer nada pela educação pública.¿ Tiago, Porto Alegre (RS)

¿Estudo no quarto ano de Mecatrônica na Poli/USP e acho uma verdadeira palhaçada o que alguns vândalos que se dizem alunos estão fazendo na reitoria.¿ Oséias Ferreira, Carapicuíba (SP)

¿A luta dos alunos por autonomia universitária é justa, mas as pessoas com justiça têm direito de ficar na bronca por alunos entrarem em greve quando a sociedade paga para eles estudarem.¿ Rogério Silva, Ribeirão Pires (SP)

¿Existem outras formas mais inteligentes de se fazer ouvir e ser visto sem ter de tomar prédios.¿ Paulo Moura e Silva, Vitória (ES)

¿Se vocês soubessem o porquê desta reivindicação estariam lá também e pediriam perdão a estudantes, funcionários e professores que os apóiam.¿ Eduardo da Silva, Suzano (SP)

¿Não é com atitudes imperialistas (que nada têm de democráticas) como a que estão fazendo que serão respeitados.¿