Título: Governo economiza R$ 9,4 bi com compra antecipada de dívida externa
Autor: Fernandes, Adriana e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Economia, p. B1

O governo brasileiro economizará R$ 9,4 bilhões em juros graças às operações de recompra antecipada de títulos da dívida externa feitas nos quatro primeiros meses do ano. A estratégia, facilitada pelo dólar barato, é comprar títulos emitidos pelo próprio governo que estão no mercado internacional.

Ao retirá-los de circulação antes do vencimento, o Tesouro Nacional economiza os juros que seriam pagos até a data final. Os títulos recomprados tinham prazos variados, que iriam até 2040. As operações de recompra somaram R$ 4,7 bilhões até o fim de abril. Só em março e abril, foram recomprados R$ 3,6 bilhões.

Essas operações, além de permitir economia com juros, influenciam a taxa de câmbio. Provocam saída de moeda estrangeira e ajudam a compensar parte dos dólares que entram no País, principalmente os ingressos decorrentes das aplicações de investidores estrangeiros em títulos da dívida interna.

Essa aplicação cresceu depois que o governo isentou o capital externo de Imposto de Renda (IR). Nos 13 meses de vigência da medida, entraram no País US$ 16,4 bilhões para investimento em títulos.

A ação mais agressiva do Banco Central (BC) no mercado de câmbio piorou o perfil da dívida pública interna em abril, que atingiu R$ 1,15 trilhão (ante R$ 1,14 trilhão em março). A parcela da dívida atrelada à taxa básica de juros (Selic) está R$ 29,3 bilhões maior por causa dos leilões do BC de swap cambial. Essas operações funcionam, na prática, como se o BC comprasse dólares.

Por causa das operações de swap, a parcela da dívida atrelada à Selic subiu para R$ 455,66 bilhões, o equivalente a 39,57% do total. A participação de títulos prefixados - que haviam alcançado a liderança em março - voltou a cair e atingiu 36,17% do total. ¿O contrato de swap conceitualmente não é dívida. É troca de rentabilidade¿, minimizou o coordenador de operações da Dívida Pública do Tesouro, Guilherme Pedras.

Se de um lado o Tesouro aumentou em abril a parcela da dívida atrelada à Selic por conta dos leilões de swap, de outro conseguiu elevar para R$ 15,96 bilhões a parcela em que é credor em dólares. Em março, essa fatia estava em R$ 11,59 bilhões.

Os dados divulgados ontem mostraram também que a participação dos títulos indexados a índices de preços em abril já superou o limite mínimo estabelecido no Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida pública, que traça as metas para o ano. Em abril, esses papéis representaram 23,32% do total.

O PAF prevê que neste ano os títulos atrelados à inflação fiquem entre 23% e 27% do total da dívida interna brasileira. A parcela dos papéis atrelados ao IPCA, as NTN-B, vem aumentando com a demanda maior dos investidores, sobretudo os estrangeiros.

Essa demanda fez ontem os juros desses papéis recuarem ainda mais, para taxas em torno de 5,8% ao ano. Segundo Pedras, a queda das taxas pagas pelo Tesouro refletiu o otimismo com os fundamentos da economia brasileira. Segundo ele, esse recuo mostra a confiança nas expectativas futuras da economia, confirmadas pela elevação da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco.

De março para abril, o impacto dos juros no estoque da dívida chegou a R$ 10,7 bilhões. A dívida só não aumentou nessa magnitude porque o Tesouro vendeu R$ 1,9 bilhão menos títulos do que o volume de papéis que venceram.