Título: Ataque especulativo?
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Economia, p. B2

Está mais ou menos disseminada no mercado financeiro a impressão de que há um ataque especulativo a favor do real.

Seria a primeira vez que um ataque cambial no Brasil teria essa direção. No passado, foram sempre contra a moeda nacional, chamasse ela cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo ou real.

O Banco Central trabalhava com cotação relativamente fixa de câmbio. Quando entendia que a moeda nacional estava valorizada demais, o mercado comprava dólares. Em janeiro de 1999, o Banco Central chegou a vender mais de US$ 2 bilhões em um único dia para dar conta da demanda. Afinal, capitulou e adotou a livre flutuação cambial em vigor.

O ex-diretor do Banco Central e ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Carlos Mendonça de Barros, por exemplo, não só está convencido de que o Banco Central vinha impondo um piso para o real, como comparou o enfrentamento da semana passada ao que aconteceu em 1992, quando uma operação comandada pelo financista húngaro George Soros nocauteou o Banco da Inglaterra no seu objetivo de segurar a cotação da libra.

O professor Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas, denuncia que o Banco Central não fez nada para evitar esse ataque. Diz que a aposta do mercado é de que o dólar escorregue até o R$ 1,80, o que, segundo ele, está se transformando em profecia auto-realizável.

Na semana passada, o Banco Central chegou a passar a impressão de que estava disposto a defender um piso para a cotação do dólar, em alguma coisa acima dos R$ 2. Foi fortemente agressivo na compra de moeda estrangeira e fez maciços leilões de troca de dívida. O mercado se empolgou a peitar o Banco Central. As estatísticas sobre o resultado desse aparente confronto não estão disponíveis porque a greve do Banco Central não atualiza as reservas desde 2 de maio.

Mas, na medida em que, nos dias subseqüentes, ficou claro que o Banco Central não pretende oferecer um alvo fixo e as cotações voltaram a se movimentar já abaixo dos R$ 2, no mínimo esse jogo ficou arriscado demais para o especulador e aparentemente começou a ser desmontado.

Parece muito temerário trabalhar como se o real estivesse tão vulnerável a ataques. Melhor dizer que foi a confluência de dois fatores que despachou mais dólares para cá. O primeiro foi a promoção da dívida brasileira nas tabelas de risco que coincidiu com nova melhora nos resultados da balança comercial e a percepção de que a economia está crescendo acima dos 4%. O outro fator foi a aproximação de cotações cambiais de números redondos (R$ 2 ou R$ 1,95), que apresentam resistências psicológicas à ultrapassagem e, uma vez ultrapassadas, apressam a valorização.

Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco, e Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, compartilham da opinião de que não há e não houve nem esse ataque nem objetivos auto-realizáveis que o Banco Central estivesse disposto a defender.