Título: Diferenças ainda são grandes, diz Mandelson
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Economia, p. B5

Em um apelo para que Brasil e Índia aceitem maiores aberturas nos mercados e para que os americanos cortem os subsídios agrícolas, o comissário da União Européia para o Comércio, Peter Mandelson, alertou que as diferenças entre as posições dos países na Organização Mundial do Comércio (OMC) 'ainda são grandes' e não se pode mais continuar defendendo as 'estruturas do passado'.

Mandelson, que curiosamente negocia em nome de um dos grupos de países mais protecionistas, fez o apelo ontem no Parlamento Europeu, afirmando que um acordo de liberalização na OMC terá de ser fechado até o fim de junho. O processo foi paralisado em julho de 2006 e, até hoje, não foi concluído.

As afirmações de Mandelson são as primeiras depois de seu encontro em Bruxelas na semana passada com ministros do Brasil, Índia e Estados Unidos. Segundo o europeu, o encontro tratou de quanto deve ser o corte de subsídios e de tarifas de importação, ainda que ministros de outros países continuem negando que propostas tenham sido feitas.

Mas ontem mesmo o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney, não disfarçava seu pessimismo diante da falta de concessões dos países ricos. Já Mandelson alertou para os riscos. Segundo ele, um acordo somente será possível quando os cortes de barreiras signifiquem reduzir as medidas protecionistas em 'todas as áreas', insinuando que os países emergentes terão de abrir os mercados para bens industriais.

'A Europa está disposta a fazer muito, mas não vai ao limite de suas ambições se outros países não fizerem o mesmo', disse, reafirmando que somente abrirá o mercado para bens agrícolas se americanos cortarem subsídios e emergentes reduzirem as tarifas para bens industriais.

Mandelson ainda atacou a visão de que o principal resultado da OMC estará na agricultura. 'Os principais ganhos econômicos da Rodada virão não da agricultura nem do setor industrial, mas da abertura do mercado de serviços e facilitação burocrática dos procedimentos de comércio', disse. 'Precisamos ver que economias queremos criar no futuro, em vez de defender estruturas do passado.'

O G-20, grupo dos países emergentes, negou em documento apresentado ontem à OMC que deva haver uma barganha entre o acesso aos mercados dos países em desenvolvimento e os cortes de subsídios nos países ricos. A proposta ainda pede que os tetos de subsídios agrícolas por produtos não sejam estabelecidos com base nos valores das commodities de 1999 a 2001, quando os preços internacionais dos produtos estavam baixos e, portanto, os subsídios eram altos. Na prática, o Brasil teme que novos limites permitam que os subsídios fiquem inalterados.

A sugestão do G-20 é de que o período considerado seja o de 1995 a 2000, o que significaria uma diferença de US$ 10 bilhões no limite, em comparação com o cálculo de 1999/2001. Na proposta, o G-20 ainda deu um sinal de flexibilidade, dessa vez no corte de subsídios à exportação. Em 2005, na Conferência da OMC em Hong Kong, ficou estabelecido que essa ajuda seria eliminada até 2013, com 80% de corte em 2010. Pela nova proposta, o G-20 aceitaria que apenas 50% fosse cortado em 2010.

FRASES

Peter Mandelson Comissário da União Européia para o Comércio

¿A Europa está disposta a fazer muito, mas não vai ao limite de suas ambições se outros países não fizerem o mesmo¿

¿Precisamos ver que economias queremos criar no futuro, em vez de defender estruturas do passado¿.