Título: Venda de refinarias à Bolívia pode ser anulada
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2007, Economia, p. B6

A Petrobrás poderá cancelar sua proposta de vender as duas refinarias que possui na Bolívia à estatal local Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) por US$ 112 milhões, caso a primeira parcela do pagamento não seja efetivada até 11 de junho. A advertência foi feita ontem pelo presidente da filial boliviana da Petrobrás, Fernando de Freitas. Em entrevista coletiva convocada por ele aos jornais locais e agências de notícias estrangeiras, o executivo foi categórico: 'Se isso não acontecer (o pagamento), a proposta vai cair'.

Ele explicou que a possibilidade de suspender a negociação estava prevista no documento assinado entre a estatal e o governo boliviano para autorizar o repasse das refinarias ao controle da YPFB. Por uma cláusula do documento, o valor seria mantido até que o pagamento fosse efetuado no prazo de 30 dias a partir de sua assinatura, e 'isso vence no dia 11 de junho', lembrou, ressaltando que acredita no cumprimento do contrato. Na semana passada, o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, havia dito que a Bolívia usaria os 30 dias para assinar o acordo, pois pretendia revisar com muita cautela cada detalhe da transferência.

O executivo também aproveitou a entrevista coletiva para afirmar que ainda não está sendo considerada a possibilidade de receber parte do pagamento em gás. A afirmação confronta o que o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, havia dito anteontem em São Paulo. Gabrielli havia confirmado que a hipótese era considerada e seria aceita porque 'gás natural também é dinheiro'. 'Esperamos receber em dinheiro. Caso o governo boliviano faça a solicitação de outra forma de pagamento, caberá a nós decidirmos se aceitamos ou não', disse ontem o principal executivo da Petrobrás na Bolívia.

Segundo Fernando de Freitas, o pagamento em gás natural é complexo. 'Todas estas conquistas alcançadas no processo de gestão da refinaria custam dinheiro, dinheiro dos investidores, dinheiro dos acionistas da Petrobrás e, portanto, devem ser remunerados', ressaltou na entrevista.

O executivo aproveitou também para esclarecer rumores que estavam circulando na imprensa boliviana, de que haveria demissões em massa nas duas refinarias vendidas. Segundo ele, os 334 funcionários das refinarias têm garantia de manutenção do emprego por dois anos, de acordo com cláusula estabelecida na proposta de venda das duas unidades.

Na verdade, o que ocorreu, segundo Freitas, é que o quadro de funcionários da Petrobrás na Bolívia foi reduzido dos 835 para 501, já que os trabalhadores das refinarias passam agora a responder à YPFB.