Título: Depoimento indica que Gautama ajudava políticos a obter verbas
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Nacional, p. A4

A Construtora Gautama funcionava como uma espécie de assessoria direta para deputados, senadores e empresas que percorriam os gabinetes de Brasília atrás de dinheiro do governo federal para obras nos Estados e municípios, segundo a investigação da Polícia Federal. A revelação está no depoimento do superintendente de Produtos da Caixa Econômica Federal, Flávio Pin, dado no dia 21 à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ela preside o inquérito que investiga as fraudes apuradas pela Operação Navalha.

Pin foi preso na operação por causa de orientações que teria dado ao funcionário da Gautama Flávio Henrique Candelot. Em seu depoimento, ele disse que Candelot ¿não é um empreiteiro¿. ¿É um assistente ou um assessor de deputado, pois ele fala em nome de empresa, de deputado, de senador, indiferentemente¿, definiu.

No depoimento, Pin deu um exemplo concreto: segundo ele, o funcionário da Gautama chegou a ir à Caixa acompanhado do ex-deputado Pedro Corrêa (PE) - na época presidente do PP, partido que tem sob sua influência o Ministério das Cidades. Pin afirmou que Candelot parecia ser ¿um consultor, o qual assessora os que precisam de orientação na condução dos processos, com vistas à realização de obras públicas¿.

MENSALÃO

O depoimento do superintendente de Produtos da Caixa reforça as investigações da Operação Navalha. Correa, que teve o mandato cassado por causa do escândalo do mensalão, foi citado nos relatórios da Polícia Federal que descrevem as fraudes envolvendo a Gautama. A PF levanta suspeitas de que o ex-presidente do PP faria tráfico de influência junto ao ministro das Cidades, Márcio Fortes, e ao secretário-executivo, Rodrigo Figueiredo, para liberar dinheiro para a máfia das obras.

A pasta de Cidades concentra a maior parte das obras de saneamento e habitação, incluindo projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e é tradicional alvo do interesses de empreiteiras.

Pin nega ter atendido a esquemas políticos. Em seu depoimento, afirmou que a superintendência que chefiava desenvolvia um trabalho ¿absolutamente apolítico e fora de influências pessoais ou de pedidos de apadrinhados¿. E negou ter favorecido Candelot.

Segundo ele, os projetos são examinados por uma equipe técnica. ¿Não seria possível, seja a pedido de Candelot, seja de outro qualquer, consultor ou assessor de área financeira e orçamentária, obter favores pessoas com a equipe da Caixa¿, sustentou.

As conversas telefônicas interceptadas pela Operação Navalha também apontariam o envolvimento do deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães.

FRASE

Flávio Pin Superintendente de Produtos da Caixa

¿Não seria possível, seja a pedido de Candelot, seja de outro qualquer, consultor ou assessor de área financeira e orçamentária, obter favores pessoais com a equipe da Caixa¿.