Título: 'Vou meter o peito neles', avisa lobista ao telefone
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Nacional, p. A4

De acordo com a Polícia Federal, o funcionário da Construtora Gautama Flávio Henrique Candelot valia-se da experiência e dos contatos adquiridos no tempo em que trabalhou como diretor de Habitação da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano - hoje Ministério das Cidades -, no governo Fernando Henrique Cardoso, para tentar alterar obras do PAC.

O inquérito da PF indica que o caminho para incluir projetos era por meio da Caixa Econômica Federal, onde, segundo o relatório da Operação Navalha, agia em favor da Gautama o superintendente de Produtos de Repasses, Flávio Pin.

Há dezenas de conversas gravadas entre Candelot e Pin. Em algumas, os dois fazem referência a reuniões ¿no ministério¿, provavelmente o das Cidades. Falam do funcionário do ministério Márcio Galvão e do secretário-executivo da pasta, Rodrigo Figueiredo.

¿O Rodrigo está me enlouquecendo¿, reclama Pin em uma das gravações feitas pela polícia. Na conversa, Pin informa a Candelot que a macrodrenagem em Maceió não está na lista do PAC que ele tem. O representante da Gautama reclama e diz que vai ter ¿que meter o peito neles¿, sem deixar claro de quem está falando.

Segundo o relatório da PF, ¿ficou comprovado que Flávio Pin, no exercício de sua função, livre e conscientemente, contribui para que a organização atinja seu fim criminoso, tendo em vista que, conforme já se mencionou, mantém contatos freqüentes e diretos com Flávio Candelot, funcionário da Gautama (...) além de trabalhar para que as obras da Gautama recebessem recursos oriundos do PAC (ex.: obra do Tabuleiro do Martins em Alagoas e urbanização de favela em São João de Meriti/RJ)¿. A polícia informa que ¿Flávio Pin orienta Flávio Candelot a providenciar planos de trabalho, ofícios de prefeitos e governadores, projetos e outros documentos¿.

Tudo indica que as tentativas para incluir nova obras continuariam. Em alguns momentos, Pin pede calma a Candelot e, sobre alguns empreendimentos, diz que ¿em outro momento¿ explicaria ao funcionário da Gautama como deveria agir para obter mais recursos do PAC.