Título: Protesto contra reformas e política econômica atinge 16 Estados e DF
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Nacional, p. A10

Manifestações em 16 Estados e no Distrito Federal, com passeatas, greves e bloqueios de rodovias, marcaram ontem o Dia Nacional de Luta Unificada por Nenhum Direito a Menos. Milhares de funcionários públicos e trabalhadores de empresas privadas protestaram contra propostas de reforma das leis trabalhistas e previdenciária e também contra a política econômica do governo federal. Foi a maior demonstração de força organizada por movimentos sociais e sindicatos na era Lula.

Em São Paulo, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul ocorreram confrontos com a polícia. Na Baixada Santista, 80 manifestantes que interditaram a Rodovia Piaçagüera-Guarujá foram detidos e autuados pela Polícia Civil, por dificultar o funcionamento de meio de transporte público.

Em Pernambuco, um soldado do Exército foi detido pela Polícia Civil, acusado de ter atirado para o alto na tentativa de dispersar um grupo de manifestantes. Em Porto Alegre, um professor teve ser levado ao pronto-socorro, após ser atingido por um golpe de cassetete desferido por policial militar, durante manifestação que reuniu cerca de 2,5 mil pessoas no centro da cidade.

Na capital paulista, cerca de 5 mil manifestantes que tentaram entrar na Assembléia Legislativa - onde era discutido o projeto de reforma da Previdência estadual apresentado pelo governador José Serra - foram impedidos pela direção da Casa. Convocada, a Polícia Militar teve de usar cassetetes e spray de pimenta para conter os manifestantes.

No fim do dia, no balanço do protesto, seus líderes destacaram o fato de ter sido o primeiro, no atual governo, a reunir organizações de diferentes tendências de esquerda. Segundo o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, o que se viu foi o prenúncio da greve geral com que os sindicatos pretendem parar o Brasil, caso suas reivindicações não sejam ouvidas.

¿Estamos nos preparando: se o Congresso aprovar a Emenda 3, vetada pelo presidente Lula, vamos fazer greve geral¿, disse ele, durante protesto diante da sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista. Cerca de 1.200 pessoas participaram do ato - para o qual estava prevista a reunião de 10 mil.

Nas manifestações, os sindicatos filiados à CUT, que é vinculada ao PT, referiram-se apenas à questão da Emenda 3 - vista por eles como o primeiro passo para mudanças mais profundas na legislação trabalhista do País. Por esse viés, acabaram transformando o dia de protesto num dia de apoio ao presidente Lula, que vetou a emenda.

O que os sindicalistas reivindicam agora é que o Congresso mantenha o veto. Se for derrubado eles pretendem, além da greve geral, distribuir folhetos com os nomes de todos os parlamentares que votaram a favor.

Mas outras organizações envolvidas no protesto foram além da Emenda 3. O Movimento dos Sem-Terra (MST), que promoveu 30 paralisações de rodovias em 9 Estados e despachou militantes para engrossar atos e marchas nas capitais, atacou a política econômica do governo e o modelo do agronegócio - que estaria impedindo a reforma agrária.

MODELO

Na opinião da direção do MST, é o ¿modelo neoliberal¿ que está por trás das propostas de flexibilização das leis trabalhistas, com ataques aos direitos dos trabalhadores. ¿É um protesto contra esse modelo de desenvolvimento econômico que privilegia o capital financeiro em detrimento do setor produtivo¿, disse o coordenador do MST em Pernambuco, Jaime Amorim. ¿Não é um ato contra o governo. É contra o modelo que, infelizmente, tem sido adotado por Lula.¿

Em Belo Horizonte, durante passeata no centro da cidade, com cerca de 1.500 pessoas, sindicalistas e estudantes pediram o fim da ¿política econômica de Lula e Meirelles¿. No sul do Estado, cerca de 100 pessoas fecharam pela manhã a Rodovia Fernão Dias, no sentido Belo Horizonte-São Paulo.

Em Maceió, militantes ligados à organização sindical Conlutas, vinculada ao PSTU, bloquearam durante toda a manhã a BR-104, provocando congestionamentos e irritação entre os motoristas. Para evitar conflitos, a Polícia Rodoviária Federal teve de improvisar desvios. No interior do Estado, o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) também bloqueou rodovias.

A lista de estradas bloqueadas também incluiu a Rodovia Presidente Dutra, que liga Rio e São Paulo, e a BR-1001, entre Sergipe e Bahia.

Na cidade de Pelotas, interior gaúcho, os motoristas pararam e deixaram os usuários sem transporte durante duas horas. Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o MLST ocupou a praça de pedágio da Rodovia Attílio Balbo durante cerca de uma hora, impedindo o tráfego de veículos e provocando quase dois quilômetros de congestionamento. No encerramento do protesto, por dez minutos, os motoristas que passaram pelo pedágio não pagaram tarifas.