Título: Lula diz que vai assentar 100 mil famílias
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Nacional, p. A12

Ao confirmar a liberação de R$ 12 bilhões para o Plano Safra 2007/2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem a meta de assentar 100 mil famílias neste ano. O número corresponde à metade do número de famílias acampadas em fazendas invadidas ou nas margens de estradas.

Em encontro com representantes do movimento Grito da Terra, o presidente reconheceu que muitos acampados vivem há quase dez anos nas barracas improvisadas, recebendo cestas básicas do governo federal. ¿Se a gente não assentar, eles acostumam tanto que acampar vai virar profissão¿, afirmou. ¿Não posso terminar o mandato deixando essas pessoas na mesma situação.¿

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, disse que o governo não anunciou uma meta maior de assentados para não criar um ¿passivo irresponsável¿. Pessoa próxima de Lula, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Manoel dos Santos, elogiou o volume do Plano Safra, mas reclamou da meta de assentamentos. ¿O número previsto não é suficiente para acomodar nem mesmo os que estão acampados¿, afirmou.

O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) havia anunciado, anteriormente, que a meta do governo era de assentar 400 mil famílias nos próximos quatro anos. Ontem, o governo se limitou a informar a meta para 2007. De janeiro para cá, o Incra assentou 17 mil famílias. O governo espera assentar outras 20 mil famílias com o crédito fundiário.

Em 2003, o governo anunciou uma meta de 400 mil famílias assentadas para o primeiro mandato. Ao final do primeiro governo, informou que teria conseguido atingir 95,3% do índice. Mas, antes do processo eleitoral de 2006, o governo foi criticado por ter assentado apenas 245 mil famílias nos três primeiros anos, número bem inferior ao que o Movimento dos Sem-Terra (MST) reivindicava - 1 milhão de famílias.

MARISA

Cassel disse que, em 20 dias, o governo vai anunciar uma redução ¿drástica¿ nas linhas de crédito do Pronaf, para facilitar a liberação do valor anunciado neste ano. Atualmente, os juros vão de 1,15% a 7,25%. Dos R$ 10 bilhões do Plano Safra do ano passado, o governo liberou até agora um total de R$ 8,5 bilhões. O índice de inadimplência é de 3%.

Durante a audiência com o Grito da Terra, Lula se queixou do excesso de pedidos de movimentos do campo. O presidente avalia que as pautas são repetitivas. ¿Vocês poderiam se juntar para facilitar minha agenda¿, reclamou.

Em tom descontraído, o presidente contou que, por causa do encontro de ontem com a Contag, teve de deixar a primeira-dama, Marisa Letícia, esperando. Lula frisou que ele e Marisa comemorariam o aniversário de casamento.

Lula ressaltou que os programas federais voltados para a agricultura familiar ¿estancaram¿ o êxodo rural. ¿A gente percebe que o êxodo rural foi realmente estancado, por causa de programas como o Luz para Todos e o fortalecimento da agricultura familiar¿, emendou Paulo Caralo, da Contag.

Em conversa com representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), Lula ouviu uma série de reivindicações. O grupo cobrou, entre outros pedidos, o aumento no valor do crédito reservado para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) neste ano - dos atuais R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões.

A Fetraf também solicitou mais recursos para o Programa de Aquisição de Alimentos - o governo compra produtos e doa para a merenda escolar, presídios, hospitais e creches.

A federação reivindica, ainda, aumento das verbas do projeto - de R$ 400 milhões para R$ 1 bilhão - e a compra de até R$ 7 mil por família, segundo informou a Agência Brasil. A coordenadora-geral da Fetraf, Elisângela Araújo, disse que Lula acenou com a possibilidade de atender a parte dos pedidos.