Título: Palestinos driblam ataques para fugir de terra sem lei
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Internacional, p. A14

Protegendo-se apenas com bandeiras brancas, milhares de palestinos estão desafiando atiradores e bombardeios para fugir do campo de refugiados de Nahr el-Bared, a pé ou apertados dentro de seus carros. Mais de 15 mil dos 40 mil moradores do já deixaram o local, que está isolado e se transformou numa terra sem lei.

Os refugiados que ainda não conseguiram sair de Nahr el-Bared estão escondidos em casas precárias perfuradas por balas e prédios destruídos por bombas - tanto do Exército libanês como dos militantes do grupo islâmico radical Fatah al-Islam. Não há água nem eletricidade e as ambulâncias e caminhões com suprimentos que tentam entrar são atacados. Como não existe hospital no campo, uma mesquita está sendo usada por médicos locais para o tratamento dos feridos.

Um refugiado que conseguiu deixar Nahr el-Bared contou que as ruas estão cobertas de destroços e estilhaços de vidro, a maioria das lojas foi queimada e há carros retorcidos por toda a parte. ¿Contei mais de 50 corpos. Dá para sentir o cheiro deles - e o cheiro piora cada vez mais.¿

Alguns refugiados culpam a milícia islâmica por estarem sendo atingidos em meio ao fogo cruzado. Outros, o Exército libanês. Mas a maioria culpa os dois. ¿Estamos cercados há três dias. O Exército atirando de um lado e o Fatah al-Islam de outro. Só queremos fugir¿, disse uma palestina. ¿Por favor, tirem a gente daqui, eles vão nos matar¿, gritava uma mulher que tentava proteger seus filhos dos ataques, no centro do campo. Numa rua perto dali, uma mulher ferida se contorcia, sem que ninguém fosse ajudá-la por temor de ser alvo de um franco-atirador.

¿Eles (Fatah al-Islam) estão nos fazendo de refém. Pedimos ao Exército que cesse os ataques. Quando alguém seqüestra um avião, você mata o seqüestrador e não os reféns¿, disse um palestino. ¿Entendo que é preciso combater os extremistas, mas esse bombardeio do Exército está apenas matando os civis¿, afirmou uma mulher de 24 anos.

¿O destino dos palestinos é sofrer com um êxodo atrás do outro¿, afirmou Fayza Rashrash, que se abrigou em Baddaui, outro campo de refugiados. ¿Tinha 23 anos quando fugi da Palestina. Como agora, saí só com a roupa do corpo¿, completou sua tia, Amide Aude, de 82 anos.