Título: Radicais rejeitam ultimato no Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Internacional, p. A14

Militantes do grupo radical Fatah al-Islam entreincheirados no campo de refugiados palestinos de Nahr el-Bared, no norte do Líbano, rejeitaram ontem um ultimato do ministro da Defesa, Elias Murr, para que se rendam. Murr alertou que se eles não se entregarem terão de enfrentar uma grande ação militar. ¿Seu destino é a prisão ou, se resistirem ao Exército, a morte¿, advertiu o ministro. O Exército - que, por lei, não pode entrar em campos de refugiados - reforçou suas posições em volta de Nahr el-Bared, provocando o temor de um sangrento enfrentamento.

A ameaça de Murr foi feita horas antes de um atentado à bomba na cidade drusa de Aley, que deixou cinco feridos. A bomba explodiu diante de um shopping center, mas a área estava praticamente vazia. O Fatah al-Islam voltou a negar qualquer envolvimento com outros dois atentados, lançados no domingo e na segunda-feira contra um bairro sunita e outro cristão de Beirute.

Membros do grupo - acusado de ter ligações com a Al-Qaeda e a Síria - prometeram resistir a qualquer ataque do Exército. ¿Não vamos deixar esses porcos nos derrotarem¿, disse um combatente, que se identificou como Abu Jaafar e usava um cinturão cheio de granadas. Segundo outro militante, um dos líderes do Fatah al-Islam disse que o grupo estaria disposto a uma trégua permanente se seus membros puderem permanecer no campo.

Uma invasão a Nahr el-Bared representaria um duro combate urbano para as tropas libanesas e mais morte e destruição no campo, onde permanecem milhares de civis. Também poderia provocar graves repercussões em todo o Líbano, como uma revolta entre os 400 mil refugiados palestinos.

Os palestinos que moram no maior campo de refugiados do Líbano, o Ein el-Hilweh, alertaram ontem, por meio de um comunicado na internet, que formarão grupos de combatentes islâmicos para lutar ao lado dos militantes do Fatah al-Islam em resposta às ¿atrocidades do Exército¿.

Já o líder do Fatah - principal facção da Organização de Libertação da Palestina (OLP) - no Líbano, Abu Aynain, não descartou a possibilidade de o grupo intervir com armas contra o Fatah al-Islam. O Fatah já havia declarado que não tem nenhuma ligação com o grupo radical que vem lutando contra as tropas libanesas. ¿É necessário que nós mesmos eliminemos essa praga e todas as opções, incluindo a militar, estão abertas¿, disse Aynain à France Presse.

Pelo menos 32 soldados morreram nos confrontos desde domingo. Os moradores de Nahr el-Bared disseram que dezenas de civis morreram e há corpos espalhados nas ruas e sob os escombros. O ministro da Defesa declarou que entre 50 e 60 militantes foram mortos.

Os confrontos começaram no domingo quando policiais que buscavam ladrões de banco invadiram um apartamento de Trípoli no qual militantes estavam abrigados.

Moradores de Nahr el-Bared aproveitaram ontem uma trégua nos confrontos para deixar o campo (ler ao lado). Segundo a Cruz Vermelha Internacional, mais de 15 mil dos 40 mil moradores já partiram e estão abrigados em escolas de outros campos de refugiados palestinos.

Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU condenou ontem duramente os ataques do Fatah al-Islam, dizendo que eles constituem uma afronta inaceitável à estabilidade, segurança e soberania do Líbano.