Título: Professores das 3 estaduais param
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Vida&, p. A18
Enquanto se esgota mais um prazo dado pela reitora Suely Vilela ao grupo de estudantes que ocupa a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) há 21 dias, e uma ação policial de reintegração de posse se torna mais próxima, o sindicato dos professores decidiu iniciar greve por tempo indeterminado. Eles foram seguidos pelos docentes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Maio é o mês em que se discute o dissídio nas universidades. Neste ano, a ocupação dos estudantes deu força à opção pela greve. ¿Sentimos que o apoio ao movimento cresceu, principalmente nos últimos dez dias¿, afirmou o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), César Minto.
Além de apoiarem os alunos,repudiarem os decretos do governador José Serra e pedirem mais verbas para a educação pública, os professores defendem reajuste salarial de 3,15% mais uma parcela fixa de R$ 200 nos salários dos docentes contratados em tempo integral. A decisão foi votada na manhã de ontem, numa assembléia que reuniu 241 professores, segundo a lista de presença. Há cerca de 5 mil docentes na USP. Hoje, haverá uma reunião entre os sindicatos e os reitores.
Hoje também, o coronel Joviano Conceição de Lima, chefe do Comando de Policiamento de Choque, deverá ir até a ocupação discutir a reintegração. Anteontem, em reunião com a reitora Suely Vilela, ele afirmou que, caso não chegassem a uma saída voluntária, poderia entrar com o policiamento no local e prender os alunos por desacato à decisão judicial. A reitora disse que tinha chegado a um limite nas negociações.
Já os estudantes, que participaram de protesto do funcionalismo público estadual na Avenida Paulista, convocaram, do carro de som, os movimentos sociais para ajudarem a resistir a uma possível ação policial. Mesmo assim, eles disseram descartar a chegada da tropa de choque. ¿Não negociamos e não vamos negociar com a polícia e repudiamos qualquer ação no campus¿, afirmou Diogo Campanha, da comissão de comunicação do movimento. Ontem, eles preparavam flores de papel para usar em um protesto.
¿Eles insistem em um movimento sem causa, todas as questões já foram esclarecidas. O que esses alunos querem é suscitar um conflito e nós não queremos isso¿, reafirmou ontem José Aristodemo Pinotti, secretário estadual de Ensino Superior.
DIVISÕES
O movimento dos estudantes, minoritário dentro da universidade, foi votado numa assembléia com cerca de 2 mil alunos, dos cerca de 80 mil da USP. Os funcionários, também em greve, afirmam que 80% deles estão parados. Mas, até ontem, a maioria das unidades estava funcionando normalmente, com exceção da prefeitura do campus, do Instituto de Física, da Escola de Comunicações e Artes e da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, onde os grevistas impediam a entrada de alunos.
O jurista Dalmo Dallari esteve reunido ontem com estudantes que temem interferência na autonomia universitária, mas questionam a ocupação da reitoria. ¿Só que eles não têm força para tomar uma atitude diferente dentro do movimento¿, diz o jurista. Eles devem, segundo ele, entrar com uma ação no Ministério Público contra a criação da Secretaria de Ensino Superior.
¿Eu estou convencido de que a criação da secretaria é inconstitucional. Mas acho que a ocupação não tem sentido, o importante é discutir se os atos do governador são constitucionais ou não. Deixar a universidade funcionando enquanto se discutem os aspectos¿, disse Dallari.
Para ele, o órgão criado em janeiro infringe tanto a legislação federal, por ferir a autonomia universitária, quanto a constituição estadual, já que a criação de cargos e de encargos financeiros não pode ser feita por meio de decreto, e sim pelo Poder Legislativo.
Na noite de ontem, o Cruesp, órgão que reúne os reitores das três universidades, divulgou uma carta na qual o secretário da Gestão Pública, Sidney Beraldo, reiterou que os decretos que limitam contratações no Estado e que criam a Comissão de Política Salarial não são aplicados às universidades, e sim ao restante do funcionalismo.
Na semana passada, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Machado Costa, havia escrito aos reitores dizendo que a autonomia das instituições segue inalterada. Esses decretos, junto com a criação da secretaria, representam o conjunto de ações usadas para justificar o temor de perda da autonomia.