Título: Papa cita 'injustiças' na colonização
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Vida&, p. A22
Para encerrar uma polêmica suscitada por comentário seu no último dia da visita ao Brasil, o papa Bento XVI mencionou ontem os sofrimentos e as injustiças provocados pela colonização e evangelização da América Latina, quando ¿direitos humanos fundamentais dos indígenas foram muitas vezes pisoteados¿. ¿A memória de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelização¿, disse o papa.
Há dez dias, no último compromisso de sua visita ao País, ao falar na abertura da 5ª Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, ele disse que ¿o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura alheia¿.
Diante de 162 cardeais e bispos de 22 países, Bento XVI defendeu a conversão dos indígenas à fé cristã como algo que purificou suas culturas e disse que a ação da Igreja Católica gerou uma síntese entre as culturas dos ¿povos originários¿ e a fé cristã que os missionários ¿lhes ofereciam¿.
Entre os críticos que se levantaram contra as declarações, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou Bento XVI de ¿ignorar o holocausto¿ deflagrado pela chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492, e sugeriu ao pontífice que pedisse desculpas. Líderes indígenas do Brasil disseram que o comentário do papa foi ¿arrogante e desrespeitoso¿.
CRIMES INJUSTIFICÁVEIS
Ontem, diante de 50 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Bento XVI disse que a Igreja ¿não negligencia as várias injustiças e sofrimentos infligidos pelos colonizadores às populações indígenas¿. Complementou que os ¿crimes injustificáveis¿ da colonização foram denunciados já na época por missionários como Frei Bartolomeu de las Casas. Reafirmou, porém, que o Evangelho expressou e continua expressando a identidade dos povos da região - e não pediu desculpas.
¿É honroso que tenha coragem de reconhecer os crimes injustificáveis dos colonizadores¿, disse o assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), padre Paulo Suess. A Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio da Assessoria de Imprensa, avaliou ¿positivamente¿ que ¿o papa tenha se retratado e reconheça que (a colonização) foi um período sombrio¿.