Título: Venda de imóveis dispara com alta do crédito
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Economia, p. B1

Após uma década pagando aluguel, a supervisora comercial Claudia Alves, de 39 anos, fechou na semana passada o contrato de compra de sua primeira casa própria - um apartamento de 59 metros quadrados e três quartos, com piscina, churrasqueira, salão de festas e de jogos, sala de home theater e outra de ginástica, além de playground para as crianças.

'Trabalhei a vida toda para ter essa segurança, mas juros altos e poucas facilidades de pagamento me faziam adiar o negócio. Chegou a minha vez', diz.

A esperada conquista deu-se, principalmente, graças a uma ambiciosa injeção de recursos no mercado imobiliário. Esse dinheiro vem do aumento da oferta de financiamento habitacional com recursos da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que devem bater novo recorde este ano: R$ 20 bilhões, ante R$ 16 bilhões em 2006.

Trata-se do maior volume de crédito para moradia desde 1988, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Desde aquela época, não se rompia a barreira de 100 mil unidades financiadas com recursos de poupança apenas.

Em 2006, foram 114 mil imóveis, somando R$ 9,3 bilhões, expansão de 95,5% sobre 2005. A expectativa para este ano é de 150 mil unidades e mais de R$ 12 bilhões. Outras 150 mil devem ter dinheiro do FGTS em 2007, somando R$ 8 bilhões, ante R$ 6,7 bilhões em 2006.

Além do crédito mais fácil - que dilatou prazos, elevou o montante financiado para até 80% do valor do imóvel e reduziu os juros -, o crescimento real (descontada a inflação) de 5% da renda dos assalariados em 2006 motiva brasileiros como Claudia a investir na casa própria.

No último ano, ela foi morar com a ex-sogra, enquanto economizava para ter seu apartamento. Com a queda dos juros do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), Claudia antecipou a compra. 'Com as condições de financiamento e o fato de estar empregada, considerei ser um bom momento para a compra.' Deu entrada de 20% do apartamento de R$ 108 mil e financiou o restante, com juros de 9% ao ano pela Caixa Econômica Federal.

Entre janeiro e a segunda semana de maio, último dado disponível, a Caixa bateu recorde em contratações habitacionais, com R$ 5,16 bilhões em financiamentos realizados, resultado 20% superior ao mesmo período do ano passado, quando foram empregados R$ 4,3 bilhões. Foram atendidas 186 mil famílias. A expectativa da instituição é destinar R$ 17,4 bilhões para a habitação neste ano.

Novas quedas dos juros devem acelerar as vendas. Desde quinta-feira, a Caixa reduziu a taxa de 10,16% ao ano mais Taxa Referencial (TR) para 8,66% mais TR, para aquisição de imóveis novos, prontos ou na planta, para famílias com renda mensal entre R$ 3,9 mil e R$ 4,9 mil.

Os números positivos da habitação alavancam a construção civil, que prevê crescimento superior a 7% em 2007, ante 4,6% no ano passado.