Título: Mais imóveis para a classe média
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Economia, p. B3

A classe média será a maior beneficiada pela onda de investimentos e injeção de recursos para financiamento da casa própria. A expectativa do mercado é a de que os apartamentos para pessoas com renda familiar entre 5 e 15 salários mínimos superem 40% do total de unidades este ano, ante 30% em 2006.

Um fator que alimenta o otimismo desse mercado em 2007 é a redução, ainda que modesta, da taxa básica de juros (Selic), que melhorou as condições de financiamento para os construtores e ajudou a ampliar a oferta de imóveis de dois a três dormitórios na faixa de R$ 70 mil a R$ 200 mil.

'Antes, o mercado estava quase totalmente voltado para a população de alta renda. Hoje, os negócios estão voltados para quem tem renda média, com maior concentração de imóveis na faixa de R$ 80 a R$ 150 mil, que atendem à parcela de famílias com renda entre cinco e dez salários mínimos, que têm acesso a recursos do FGTS e de poupança', diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon), João Claudio Robusti.

Segundo ele, o mercado irá crescer, este ano, principalmente, para atender a um déficit habitacional dessa classe da população, estimado em 8% do total do déficit habitacional do País, na faixa dos 8 milhões de imóveis.

No mercado habitacional paulista, o setor já apresentou bons resultados no primeiro trimestre deste ano, quando foram vendidas 5.675 unidades e movimentado R$ 1,8 bilhão, crescimento 8,8% superior ao do mesmo período no ano passado. Foi o melhor resultado desde que a pesquisa trimestral começou a ser feita, em 2004.

Para 2007, a expectativa é de 15% a 20% de crescimento, com 32.600 unidades sendo lançadas e volume de negócios em torno de R$ 10 bilhões, segundo o Secovi-SP. O setor já vem aquecido desde o ano passado, quando obteve o melhor resultado desde os anos 1980, com 28.324 unidades, crescimento de 16,8% em relação a 2005, e R$ 8,6 bilhões em negócios.

'O mercado para essa classe média e baixa está realmente muito aquecido', diz Cristiano Goldstein, presidente da Paez de Lima, especializada em baixa renda. Das 800 unidades com lançamento previsto para este ano, 80% estão na faixa de preço de R$ 100 mil a R$ 120 mil, com dois e três dormitórios, segundo Goldstein. Incorporadoras como a Klabin Segall e a Rossi também apostam nesse segmento para 2007. O investimento total da Klabin Segall no segmento de baixa renda em 2007 deve ser em torno de R$ 250 milhões, em unidades com entre 45 e 55 metros quadrados, de um e dois dormitórios. Os preços devem ficar em torno de R$ 50 mil a R$ 100 mil.

O mercado de classe média pode contar, ainda, com reforço de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No início do ano, o governo anunciou investimentos de R$ 106,3 bilhões para habitação até 2010. Desses, R$ 50,4 bilhões seriam voltados à classe média, com recursos de caderneta de poupança.

DÉFICIT

Os demais recursos do PAC, R$ 55,9 bilhões, sairiam do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seriam destinados à famílias com renda de até cinco salários mínimos, que concentram 92% da demanda por habitação, cujo déficit é estimado em 8 milhões de residências. 'Para essa população, ainda são poucos os recursos e possibilidades de financiamento', diz Robusti, do Sinduscon. 'Programas como o PAR (Programa de Arrendamento Residencial) melhoraram a oferta, mas ainda são insuficientes para atender à demanda. O governo não parece compromissado com essa faixa.'

O orçamento do PAR em 2007 é de cerca de R$ 600 milhões. Nos últimos cinco anos, o programa financiou cerca de 240 mil unidades, enquanto o déficit para essa faixa de renda é de 7,4 milhões de residências. Nesse ritmo, o governo brasileiro levaria nada menos do que 154 anos para acabar com o déficit habitacional. Isso, confiando na improvável manutenção do número atual de pobres no País.