Título: Indústria vai importar aço para combater alta de preços no Brasil
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2007, Economia, p. B11
Depois de um ano de trégua, a guerra do aço foi retomada entre as siderúrgicas, que querem reajustar os preços, e fabricantes de carros, geladeiras e bicicletas, que ameaçam importar o produto. A Fiat deu a largada e já encomendou chapas, barras e componentes da Coréia do Sul. Mesmo com frete, a matéria-prima chegará ao País 15% mais barata que a nacional, vendida pela vizinha da montadora em Minas Gerais, a Usiminas.
As usinas alegam aumento de custos e de demanda e pedem reajustes de 6% a 15%. 'Não há justificativa para esses aumentos', protesta o vice-presidente administrativo e financeiro da BSH Continental, Edson Grottoli. 'A inflação está controlada e o real valorizado.'
Segundo Grottoli, o aço representa de 20% a 25% do custo de produção da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar etc). As usinas pedem de 6% a 7% de reajuste para maio, mas já acenam com novos aumentos para junho e julho. 'Estamos pesquisando preços internacionais e a alternativa será importar alguns itens, talvez da Coréia ou da Europa.'
A Fiat vai comprar da Posco o equivalente a 10% do seu consumo. O primeiro lote chega em 30 dias, informa o presidente da montadora, Cledorvino Belini, que reluta em aceitar os 7% de reajuste imposto por siderúrgicas brasileiras. 'É a primeira vez que vamos importar aço de forma estruturada e o contrato é por um ano.' O aço representa 33% do custo de um carro.
A Volkswagen não descarta a importação, caso a pressão das usinas se intensifique. 'Voltamos ao cenário de 2005', diz porta-voz da empresa. Naquele ano, a montadora importou 30 mil toneladas de aço da Europa por discordar do preço interno.
Em 2005, por pressão do setor industrial, o governo zerou o Imposto de Importação (II) de 15 tipos de aço. Em 2006, usinas e clientes viveram clima de paz, com aumentos considerados razoáveis. Neste ano, a guerra foi retomada. A suspensão do II está em vigor, mas a Fiat vai importar até itens fora da lista, como chapa de aço tratada com zinco, cuja alíquota é de 14,5%.
A Caloi pesquisa fornecedores de países asiáticos, entre os quais a China, para trazer tubos de bicicletas. O componente feito em aço representa 80% do custo de produção. Seus fornecedores pedem aumento imediato de 7% a 8% 'e a alternativa é o mercado internacional', diz Jayme Marques, vice-presidente da Caloi. 'Já achamos preços mais baratos que os nacionais, mesmo sem o reajuste.'
'Vamos tentar negociar, mas se preciso buscaremos fornecedores externos', confirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros (representa o setor de eletroeletrônicos).
Segundo a FGV, em 2006 o aço subiu 2,2%, o carro 1,53% e os eletrodomésticos caíram 1,32%, ante inflação de 2,05% (IPC). Em 2004, antes da isenção do II, o aço subiu 57,6%, os carros 19,7%, os eletrodomésticos 6,6% e a inflação foi de 4,9%. Usiminas, CSN e Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) não comentaram o assunto.