Título: BC decide juro sob pressão do dólar
Autor: Graner, Fabio e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2007, Economia, p. B1

O Comitê de Política Monetária (Copom) decide a taxa básica de juros na quarta-feira sob pressão dentro e fora do governo para acelerar a velocidade de queda e cortar a taxa Selic em pelo menos 0,5 ponto porcentual. A pressão se acirrou depois que a cotação do dólar caiu abaixo dos R$ 2,00 e passou a alimentar avaliações sobre a necessidade de uma queda mais agressiva na Selic.

A avaliação de uma parcela do governo, porém, é que acelerar o corte da taxa não vai, por si só, estancar a entrada de dólares e reverter a trajetória de queda da moeda americana. O fato é que, mesmo que os juros tenham uma queda maior, eles continuarão bem acima das taxas internacionais e atraindo o abundante capital financeiro disponível.

Desde setembro de 2005, quando se iniciou o atual ciclo de flexibilização da política monetária, o diferencial de juros com o exterior diminuiu e, mesmo assim, a moeda brasileira continuou em trajetória de valorização. Enquanto a Selic caiu de 19,75% para 12,5% ao ano, as taxas de juros nos Estados Unidos subiram de 3,5% para 5,25% anuais e no Japão, de 0,10% para 0,5% ao ano. Ou seja, a diferença cai, mas continua enorme, sobretudo em relação ao Japão - cujos títulos concentram as operações internacionais de arbitragem de juros (carry trade). Nesse período, o dólar caiu 22%, de R$ 2,36 para R$ 1,93.

'Por isso, é um mito achar que a queda mais agressiva do juro mudará a trajetória do dólar', disse uma alta fonte da equipe econômica, lembrando que há um movimento global de queda do dólar e o mundo vive uma mudança de padrão de financiamento.

'O juro no Brasil ainda é muito alto em relação ao resto do mundo. Com juro elevado, numa economia muito estável - sem turbulências como as que ocorrem, por exemplo, na Turquia -, em um ambiente internacional de crescimento forte e juros baixos, não tem como não vir dólar para cá', afirma o economista da MB Associados Sérgio Vale, que aposta em corte de 0,5 ponto na taxa.

'Mesmo se a Selic chegar a 10,75% no fim do ano, o nível ainda será alto, pois o juro real (taxa nominal menos a inflação) ficará em torno de 7%, enquanto nos EUA é de cerca de 2,5% e, no Japão, zero', acrescentou, ponderando que a valorização do real também está relacionada ao fluxo de dólares do comércio exterior.

O dólar barato, na avaliação do governo, produz um ciclo virtuoso: câmbio baixo derruba a inflação, que abre espaço para a queda dos juros, que ajuda a acelerar o nível de atividade econômica. E esse ciclo também alimenta o fluxo de investimentos para o Brasil.

Outro fator que, segundo analistas do governo, estimula a entrada de dólares é a queda no risco país. A valorização do real só acelerou em 2007, quando o risco se consolidou abaixo dos 200 pontos e da média dos demais países emergentes.