Título: Muito dinheiro, resultado modesto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2007, Economia, p. B2

O relatório Financiamento do Desenvolvimento Global de 2007, do Banco Mundial, revelou dados sobre a liquidez internacional e o estímulo que isso propicia ao crescimento econômico: entre 1998 e 2006, mais que triplicou o fluxo de capitais para os países em desenvolvimento, de US$ 193,4 bilhões para US$ 646,8 bilhões. A economia brasileira foi uma das favorecidas pelo ingresso de recursos, mas o PIB não respondeu à altura.

As empresas brasileiras levantaram no exterior, no período, US$ 165,1 bilhões, sob a forma de emissão de ações, bônus e empréstimos, abaixo apenas das empresas da Rússia, que receberam US$ 175,8 bilhões, e das da China, que captaram US$ 166,5 bilhões, mas acima das do México, Turquia e Índia.

O porte dessas operações brasileiras chamou a atenção do banco. A Vale do Rio Doce foi citada pela aquisição, por US$ 17,6 bilhões, da mineradora canadense Inco, em transação financiada por bancos internacionais.

Mas, no que diz respeito ao crescimento econômico, a posição relativa do País piorou. Em 2006, a economia mundial cresceu 4% e a dos países emergentes, em média, 7,3%, enquanto a do Brasil, apenas 3,7%.

Para 2007, as projeções dos técnicos do banco são mais favoráveis. O PIB brasileiro deverá avançar 4,2%, ante 6,7% dos emergentes ¿ a diferença cairia de 3,6 pontos porcentuais para 2,5 pontos. Além disso, o País deverá crescer acima da taxa mundial, estimada em 3,3%.

Na América Latina, a posição relativa do Brasil também deverá melhorar. O banco prevê queda do ritmo de crescimento da Argentina, de 8,5%, em 2006, para 7,5%, neste ano, 5,6%, em 2008, e 3,8%, em 2009. E são piores as projeções para a Venezuela: o crescimento do PIB de 10,3%, em 2006, deverá cair para 6,5%, em 2007, 3,3%, em 2008, e 3%, em 2009. Prevê-se alguma desaceleração para o Brasil, mas muito pequena, com o PIB crescendo 4,1%, em 2008, e 3,9%, em 2009.

É questionável, no relatório do banco, o otimismo com relação ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê a aplicação de US$ 240 bilhões, entre 2007 e 2010. Isso ajudará, segundo o Bird, o PIB a crescer mais de 4% neste e no próximo ano. Mas só terça-feira foi aprovada, no Senado, a última medida do PAC ¿ autorizando o uso de recursos do FGTS. O banco é mais otimista que o governo, que reconhece o atraso de muitos projetos. É arriscado, assim, conferir ao PAC um papel decisivo na retomada.