Título: Governo 'compra' o grau de investimento
Autor: Fernandes, Adriana e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2007, Economia, p. B3

A queda do dólar ante o real está permitindo ao governo 'comprar' o grau de investimento das agências de classificação de risco. Com o fluxo maior de dinheiro para o País, o Banco Central (BC) acelerou as compras de moeda americana para colocar as reservas internacionais em níveis recordes.

Esse movimento permitiu a redução do risco país, a queda dos juros dos títulos públicos e tem sido fundamental no trabalho do BC de manter a inflação baixa. A avaliação do governo é que, mesmo com o aumento nos últimos dois meses do custo fiscal dessa política, os benefícios compensam.

'Essa política, entre outras coisas, compra o nosso investment grade', diz uma fonte da área econômica. Grau de investimento é a nota que abre as portas de um país para fundos que só podem aplicar em ativos com baixo risco de calote.

A fonte do governo ressalta a correlação direta, ainda pouco destacada pelos analistas econômicos, entre o processo de distensão da política monetária e o início da política mais agressiva do BC de compra de reservas. 'Os benefícios superam o custo. Os sistemas internacionais são dinâmicos. Não sabemos o que vai acontecer amanhã', argumenta a fonte.

Em setembro de 2005, quando o BC começou a reduzir a taxa Selic (de 19,75% para 19,50%), as reservas internacionais brasileiras estavam US$ 57 bilhões. Hoje, 21 meses depois, as reservas superam US$ 130 bilhões e os juros estão em 12,50%.

A aceleração do ritmo de melhora da classificação do Brasil pelas agências, proporcionada pelo aumento das reservas, também tem favorecido empresas. Algumas já foram alçadas à posição de grau de investimento, como Companhia Vale do Rio Doce, Embraer, Petrobrás, Votorantim, Itaú, AmBev, Aracruz, Alcoa e Bradesco.

No rastro da melhora do Brasil, essas grandes corporações e outras empresas acabam conseguindo captar recursos em condições semelhantes às de países grau de investimento e, com isso, aumentam a competitividade.

'À medida que o Brasil acumula reservas, cai o risco e, conseqüentemente, a taxa que os investidores cobram para investir no País', avalia Alexandre Lintz, estrategista do banco BNP Paribas.

Segundo ele, com a política de reforço de reservas, o governo está permitindo acumulação de ativos cambiais que tornam a probabilidade de desvalorização do real no futuro menor do que a de valorização. 'Isso é importante para a política monetária, pois traz mais estabilidade.'

O economista da MB Associados Sérgio Vale acredita que ainda há um espaço grande para avançar na compra de reservas. 'O Brasil tem uma relação entre reservas e PIB na casa dos 10%, enquanto os países investment grade têm esse indicador acima de 20%.'