Título: A virada da Bovespa, movida a esforço e sorte
Autor: Cançado, Patrícia e Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2007, Economia, p. B14

O clima de euforia de sexta-feira, quando a Bolsa bateu o 20º recorde de pontos do ano, em nada lembra uma madrugada gelada de 2001. Na época, o presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, estava nas ruas tentando popularizar negócios com ações e salvar a Bolsa. 'Tinha de estar às 4h30 da manhã na porta da fábrica, mas estava difícil achar uma luz.'

Naquela época, a Bolsa movimentava menos de US$ 200 milhões por dia - hoje são US$ 1,8 bilhão -, as empresas levavam as ações a Nova York sob forma de ADRs e não havia interessados em emitir papéis no Brasil. A conversa mais comum era que a Bolsa de São Paulo seria engolida pela de Nova York. A história da virada na Bovespa conta com muito esforço, alguma sorte e uma dose de ironia.

A melhora do cenário externo e a estabilização da economia ajudaram, mas a Bovespa fez sua parte. Contratou uma equipe chefiada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros para a reestruturação. Foram visitadas seis bolsas européias até se encontrar um modelo, a Neuer Market, bolsa alemã de empresas de tecnologia.

Em outro front, Magliano brigou para acabar com a cobrança da CPMF, que tornava os negócios com ações mais caros do que nos EUA. No auge da crise, pediu a ajuda do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, e levou um caminhão de som à porta da Bolsa. Os operadores fizeram greve para pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso para salvar seus empregos.

Durante 10 meses, Magliano visitou deputados e senadores em Brasília até convencê-los a derrubar a CPMF na venda de ações. A CPMF caiu em junho de 2002 e, lentamente, as empresas começaram a aderir ao Novo Mercado, hoje o principal motor da Bolsa. Por ironia, o Neuer Market alemão acabou com o estouro da bolha da internet. Os negócios voltaram à Bovespa, mas os operadores não estão mais lá. O pregão, agora, é eletrônico.