Título: Empresários esperam 'banho de realismo' do 2º governo Kirchner
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2007, Economia, p. B17

Os empresários acreditam que no ano que vem, caso seja reeleito, o presidente Néstor Kirchner inevitavelmente vai liberar as tarifas de energia, congeladas desde janeiro de 2002. A medida, acreditam eles, faria com que a Argentina se tornasse novamente um país atraente para os investimentos no setor energético.

As pesquisas apontam para uma vitória de Kirchner e os analistas vêem um governo mais ¿light¿ em 2008 com as empresas privatizadas e os organismos financeiros internacionais. ¿O governo, em uma eventual reeleição, terá de tomar um banho de realismo¿, disse ao Estado Jorge Lapeña, ex-secretário de Energia do governo de Raúl Alfonsín (1983-89). ¿Acho que quatro anos foram suficientes para mostrar que dessa forma não dá. As tarifas terão de ser descongeladas.¿

No entanto, Lapeña sustenta que a crise não foi causada por Kirchner, embora tenha sido potencializada por ele. ¿Já na época do governo Carlos Menem (1989-99), as empresas do setor só estavam investindo no aumento da produção, mas não estavam preocupadas com a descoberta de novas jazidas de gás e petróleo. O setor energético no Brasil, comparado com o argentino, é um grande sucesso.¿

O ex-secretário Carlos Bastos, do governo Menem , pensa que ¿o pior está para acontecer¿. Segundo ele, o governo Kirchner é como o protagonista do romance Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Márquez, pois ¿é o único que não sabe que a morte está perto¿. Kirchner deveria tomar três medidas, na visão de Bastos, para atrair investimentos: ¿Levar os preços e as tarifas a seu real valor, criar um mecanismo de subsídios transparentes para os setores mais pobres e elaborar um sistema de garantias que reduza para os investidores os riscos de mudanças de regras no futuro.¿

Analistas e empresários confiam que, se for reeleito, Kirchner deixará de lado o tom duro que teve nestes quatro anos. ¿Vem aí um Kirchner mais amável, conciliador, que trará investimentos externos. É preciso recordar que o primeiro governo dele teve uma origem complicada. Chegou ao poder com 22% dos votos e a Argentina estava falida. Ele devia primeiro colocar ordem na economia e agradar ao eleitorado. Agora Kirchner vai agradar ao empresariado. Ora bolas, no fim das contas essa é a forma peronista de governar¿, disse ao Estado um deputado simpático ao governo Kirchner.