Título: Peemedebista já foi inocentado pelos colegas
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2007, Nacional, p. A4

Apesar de o Conselho de Ética ainda não ter se reunido para analisar o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), politicamente ele já foi absolvido previamente pelos colegas. Renan é hoje um dos políticos mais influentes no Congresso e, com essa força de articulação, garantiu a montagem de uma eficiente blindagem política em todos os partidos políticos para proteger seu mandato de senador e o posto de presidente do Congresso.

Nas últimas 24 horas, ele tem conversado seguidamente com os principais aliados para checar a temperatura política e colocar-se à disposição para prestar qualquer esclarecimento. Embora neguem a existência de um ¿acordão¿ político para pré-absolver Renan, os senadores repetem diariamente que consideram consistentes as explicação oferecidas pelo presidente do Senado.

¿Não existe nenhum tipo de acordo para proteger ninguém¿, afirma o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). ¿Ninguém está acima da lei, mas a mesma Justiça presume também a inocência das pessoas quando não há culpa. E, para mim, as explicações dele são convincentes¿, diz o senador, um dos principais aliados de Renan.

¿Politicamente, acho que esse caso já está encerrado¿, acrescenta o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

A blindagem começou a ser montada no sábado, numa reunião com aliados, feita em sua residência, quando ficou decidido como seria seu discurso, na segunda-feira. Essa operação continuou a ser definida em um almoço realizado na terça-feira, na casa do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), reunindo alguns dos principais senadores. Tasso também nega um acordo, mas se dá por satisfeito com explicações apresentadas por Renan.

SIBÁ

Outro movimento importante foi a escolha de um político aliado, o senador Sibá Machado (PT-AC), para comandar o Conselho de Ética. Suplente da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Sibá é fiel aliado do Palácio do Planalto.

Sibá sabe que o governo não tem interesse na condenação de um dos principais articuladores da montagem da coalizão política entre PT e PMDB. Essa parceria política fez com que o PMDB ocupasse quatro ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aponta para um acordo nacional nas próximas eleições.

As suspeitas de que possa participar de um acordo para preservar Renan não impressionam Sibá. ¿Podem me julgar do jeito que quiserem. Estou agindo de acordo com a minha consciência e vamos trabalhar no Conselho de Ética de acordo com a lei¿, avisou. ¿Se alguém não ficar satisfeito com os resultados dos trabalhos, recursos podem ser apresentados para que o plenário delibere, já que ele é soberano.¿

Na prática, só a força política de Renan justifica essa absolvição antecipada, uma vez que as explicações prestadas pelo parlamentar até agora são insuficientes, pois não abrangem o período entre janeiro de 2004 e novembro de 2005. Os documentos e extratos entregues anteontem para o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), não foram exibidos para a imprensa, mas Renan tem prestado informações importantes, em conversas com colegas.

O presidente do Senado contou, por exemplo, que tem documentos comprovando que pagou à jornalista Mônica Veloso R$ 100 mil, em duas parcelas, para custear um fundo de educação para a filha. Essa informação foi contestada pelo advogado de Mônica, Pedro Calmon Filho, logo depois de Renan anunciá-la, em discurso no plenário.

A contestação causou mal-estar, pois revelaria uma contradição imediata. Mas os senadores foram informados de que existiriam recibos, assinados pela própria Mônica, comprovando os pagamentos.