Título: Cocadas como brindes e vinho em vez de dinheiro
Autor: Brandt, Ricardo e Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2007, Nacional, p. A6

A ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon tem ouvido dos suspeitos na máfia das obras explicações no mínimo inusitadas para os flagrantes da Polícia Federal. O engenheiro da Secretaria de Infra-Estrutura do Maranhão, José de Ribamar Ribeiro Hortegal, fez desabafo ao depor semana passada. Falou de dinheiro uma única vez, ao mostrar a fragilidade de sua saúde: contou que há 18 dias se submeteu a uma cirurgia de vesícula que lhe custou R$ 3.800 ¿só a parte hospitalar¿. Hortegal também não reconheceu a própria voz em todos os diálogos ouvidos no depoimento.

Já o ex-secretário de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Sinop (MT) Jair Pessine alegou que uma sacola preta carregada por ele até o prédio da Gautama, em Brasília, continha, na verdade, vinho. Pessine foi fotografado pela PF entrando, no dia 21 de março deste ano, na Gautama com a sacola e saindo sem ela. No dia seguinte, ele a busca e a leva para o hotel onde estava. Mais tarde, segue com sacola para o aeroporto, mas desce do carro sem ela. Na versão de Pessine, ele carregava vinhos - não dinheiro, como desconfia a PF - comprados naquele dia. Pessine diz que esqueceu a compra na empresa, onde voltou no dia seguinte para buscá-la. Na seqüência, vai ao hotel para pegar o resto de sua bagagem e, ao chegar ao aeroporto, esquece novamente as garrafas, dessa vez no carro de um amigo.

COCADA E COLCHÃO

Vicente Coni também deu sua versão à ministra. Ele negou que oferecesse vantagens a servidores e alegou que, apenas ¿por delicadeza e para agradar¿, levava ¿cocadas¿ compradas na Bahia, onde é sediada a empresa.

Na sua vez de depor, o superintendente de obras do Maranhão, Sebastião José Pinheiro Franco, pego pela PF com R$ 600 mil em casa, afirmou que, por ter mais de um emprego, recebe mensalmente R$ 8 mil e que, por hábito herdado do pai, guarda dinheiro vivo em casa. Braço direito do dono da Gautama, Fátima Palmeira deu a sua explicação inusitada para justificar episódio em que aparece no aeroporto de Brasília com o patrão, Zuleido Veras. Ela entrega a própria bolsa a ele, que entra com o acessório no banheiro. Segundo Fátima, a bolsa tinha papel higiênico, por isso foi levada por Zuleido até o banheiro.