Título: Assessor contradiz Rondeau sobre reunião com Zuleido
Autor: Brandt, Ricardo e Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2007, Nacional, p. A6

O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau - que deixou o cargo após ser acusado de envolvimento com a máfia das obras públicas - entrou em contradição com seu ex-assessor Ivo de Almeida Costa nos depoimentos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Rondeau afirmou que conhecia o empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama e apontado pela Polícia Federal como chefe da quadrilha, mas que nunca esteve reunido com ele e não há registros de sua presença em seu gabinete. Disse apenas que encontrou o empresário em uma inauguração de obra em Mato Grosso.

Costa, o ex-assessor, que o próprio Rondeau afirmou ser o responsável por sua agenda, disse lembrar que ¿uma única vez participou de reunião em que estavam o ministro e Zuleido, para tratar do programa Luz para Todos¿. Rondeau disse que sabia apenas que Zuleido esteve algumas ocasiões no gabinete de seu ex-assessor.

As investigações da Polícia Federal sugerem que a Gautama, por intermédio de Costa e da diretora comercial da empresa, Maria de Fátima Palmeira, pagou propina de R$ 100 mil ao ministro para ser beneficiada com recursos do Luz para Todos. O ex-ministro nega.

As várias versões conflitantes dos 46 depoimentos dados ao STJ, as divergências de informações entre o que foi dito por eles e os documentos apreendidos e os grampos realizados pela PF serão uma das frentes exploradas pelo Ministério Público Federal na montagem da denúncia que está sendo elaborada pelos procuradores e que deve ser apresentada em breve à Justiça.

Por meio das lacunas deixadas pelos depoentes, os procuradores querem comprovar que a Gautama fraudava licitações, direcionava recursos e superfaturava obras nas três esferas de governo.

O MPF vai tentar desmontar a defesa elaborada pelos acusados que, em linhas gerais, tenta justificar a alta movimentação financeira em dinheiro vivo, os contatos com servidores públicos e políticos, como operação normal de uma empresa com contratos no governo.

As investidas da Gautama ao Ministério de Minas e Energia são alvo ainda de outra contradição que será explorada pelo MPF. A diretora comercial da empresa entrou em controvérsia com o consultor da Construtora Engevix Sérgio Luiz Pompeu Sá, sobre o encontro entre eles e o assessor do ministro no dia 13 de março, suposta data do pagamento da propina de R$ 100 mil.

Maria de Fátima foi filmada no dia em que entrou com um envelope no ministério, pelo elevador privativo, para se encontrar com Costa e o empregado da Engevix. Para a PF, ela foi levar propina ao ex-ministro. Os acusados alegam que o motivo do encontro seria a discussão sobre problemas que a empresa enfrentava no andamento das obras do gasoduto de Urucu (AM).

No depoimento de Sá, ele afirma que encontrou ¿casualmente¿ com ela no ministério, mas sabia de sua audiência com o assessor do ministro. No depoimento dado por ela no dia 26, afirmou que Sá estava com Costa no ministério e que ele ligou para que ela fosse até lá levar os documentos referentes à obra de Urucu. Ela afirma que foi até o ministério e ¿reuniu-se com Costa e Sá¿.

Outra divergência é sobre as referências que aparecem nos grampos sobre a ¿folha B¿, que para a PF é a contabilidade extra-oficial das propinas pagas. O diretor financeiro da Gautama, Gil Jacó de Carvalho Santos, disse que a ¿folha B registra tipos de remuneração diversos dos salários em que não há desconto das contribuições sociais¿. Maria de Fátima afirmou que a ¿folha B era complemento de salário ou antecipação de participação¿ e disse não saber ¿se na folha B havia descontos de contribuições sociais¿.